Muitos alunos reclamam que não acham artigos sobre seus temas de interesse. Contudo, a maioria desses temas tem literatura abundante. Uma simples busca no Google prova isso. Como então você poderia fazer uma pesquisa bibliográfica eficiente?
Com o advento da internet, revistas online, buscadores científicos, websites pessoais de cientistas, repositórios de preprints, currículos online, “destravadores de literatura”, redes sociais acadêmicas e o Tinder, hoje é possível encontrar 99,99% dos trabalhos procurados. Sério.
Portanto, se você acha que ninguém nunca escreveu nada sobre o tema do seu projeto, pense duas vezes. Siga este passo-a-passo para buscar literatura científica like a boss.
1. Escolha boas palavras-chave
O mais importante em uma pesquisa bibliográfica online é a combinação de palavras-chave (keywords). Quanto melhor você conhecer o seu tema de interesse, mais intimidade terá com os termos fundamentais ou mais quentes (buzzwords), que abrem as portas da literatura especializada. Aprenda também a usar operadores booleanos como AND e OR, que ajustam a sua mira.
2. Prefira os buscadores especializados
Faça suas pesquisas principalmente em buscadores científicos especializados, como Web of Science, Scopus, JSTOR, PubMed e Scielo. Eles variam entre si em termos do número de revistas que indexam e quais critérios usam para incluir ou excluir revistas. Portanto, convém usar uma combinação deles.
3. Use também buscadores adicionais
O Portal Periódicos da Capes pode ser usado para acessar esses buscadores quando você está fora da rede de uma universidade ou instituto de pesquisa. Infelizmente, por causa de mudanças recentes nas regras de acesso, agora mesmo dentro das universidades o acesso aos periódicos indexados em alguns buscadores deve ser feito de forma indireta via Portal Capes. Há unidades que também oferecem acesso remoto a esses buscadores via VPN.
O Google Scholar (Google Acadêmico) melhorou muito nos últimos anos. Hoje, na minha opinião, ele se tornou melhor do que os buscadores tradicionais em alguns aspectos. Principalmente porque o Google Scholar tem acesso gratuito e não escolhe as revistas que indexa. Melhor ainda, ele indexa também websites, blogs, relatórios, monografias, dissertações e teses: a chamada literatura cinza. Esse escopo mais amplo tem muito mais a ver com o espírito livre da ciência e favorece a liberdade de escolha de fontes. Contudo, o algoritmo de retenção de atenção do Google também é usado nesta versão acadêmica, o que gera resultados enviesados, algo perigoso. Por fim, quando você faz uma busca no Google Scholar, logo abaixo de cada resultado vê uma opção “Todas as XX versões”, onde “XX” é o número de versões do mesmo texto encontradas na internet. Clicando nessa opção você pode conferir se há algum PDF gratuito disponível.
4. Busque direto na fonte
Caso você não ache o trabalho desejado seguindo os passos anteriores, procure pelo site pessoal do autor correspondente ou dos coautores. Muitos colocam PDFs online hoje em dia ou pelo menos te mandam o PDF por e-mail se você pedir. Também está ficando comum cientistas colocarem PDFs de artigos em portfólios online, como Research Gate e Academia. Entrar em contato direto com o autor também pode ser bom para o seu networking profissional, porque você aproveita o pedido e se apresenta, faz um social.
5. Dê uma olhada em repositórios de preprints
Cada vez mais autores colocam versões preliminares de seus artigos em repositórios online de preprints, como arXiv ou bioRxiv. Não sabe o que é um preprint? Então leia este outro post.
6. Consulte também os buscadores de livros
Em se tratando de livros, há sites como o Google Books, onde é possível achar até mesmo trabalhos inteiros em PDF. Faça o download apenas dos que tiverem distribuição gratuita. Dá muito trabalho escrever um livro. Além disso, autores acadêmicos via de regra não ganham um centavo sequer com seus livros e muitas vezes ainda pagam os custos de publicação do próprio bolso.
7. Procure TCCs nos lugares certos
No caso de trabalhos de conclusão de curso, também conhecidos como TCCs (englobando monografias, dissertações e teses), o melhor é consultar o banco de teses da Capes. Muitas universidades, como a USP, hoje têm também seus próprios bancos de TCCs, então você também pode procurar direto neles.
8. Apele para os destravadores
Há ainda os “destravadores de artigos”, ou seja, sites especializados em quebrar o paywall das revistas. Neles, basta você colocar a URL ou DOI do artigo, que ganha acesso ao PDF. Esses destravadores geram muita controvérsia, mas, no fundo, têm ajudado a ciência a se tornar mais acessível. Alguns, como o Sci-Hub, funcionam como verdadeiros “Napster” da Academia: uma solução disruptiva que provoca evolução no modelo de negócios das grandes editoras comerciais.
9. Se não achar o trabalho online, apele para métodos old school
Se mesmo assim não tiver conseguido o trabalho desejado na Internet, procure-o fisicamente nas melhores bibliotecas universitárias da sua área. Por exemplo, a biblioteca da Biologia da Unicamp é ótima para artigos, enquanto a biblioteca da Biologia da USP é ótima para livros. Em último caso, ainda há o bom e velho sistema comut de empréstimos entre bibliotecas universitárias. Converse com o bibliotecário da sua instituição e aproveite enquanto o comut ainda não foi extinto.
10. Evite dar uma de folgado
Só depois de tentar todos esses recursos, considere fazer pedidos de bibliografia aos seus colegas em redes sociais, fóruns, mailing lists etc. Porém, tenha um mínimo de noção. Nunca escreva para alguém pedindo “me dê tudo o que você tem sobre o assunto X”. Isso é folga pura e simples, e queima o seu filme. Também não cometa a gafe de ser preguiçoso, não fazer a busca bibliográfica, pedir um trabalho a um autor e um segundo depois descobrir que ele está amplamente disponível em uma revista open access.
* Publicado originalmente em 2010 e atualizado constantemente.
Marco, voce vai disponibilizar a página 740 do livro do Michael Begon no xerox da UFMG, ou se não, eu consigo encontrar em português na biblioteca da UFMG ?
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Oi Thomas, porque essa página, especificamente? Sim, tem esse livro na Biblioteca. Um abraço.
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Marco, em relação a leitura dos artigos, é preferível leitura impressa à leitura virtual?
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Marcos, não tem um meio melhor, depende do gosto e do costume de cada um. Eu, por exemplo, prefiro ler artigos em PDF, porque são de leitura rápida, e livros em papel mesmo, porque requerem dias para serem lidos. Acho o PDF mais prático e o meio impresso mais confortável, mas isso porque pertenço à última geração educada completamente fora da Internet e do computador. Creio que daqui a mais uma ou duas gerações os meios eletrônicos dominarão a cena, ainda mais agora com os tablets, que permitem uma leitura mais confortável. E tento colecionar tanto livros como artigos em formato PDF para poder carregar minha biblioteca (ou o máximo possível dela) comigo para onde vou. Só para concluir, acho que os livros impressos ainda têm uma grande vantagem sobre as leituras eletrônicas: eles estimulam a profundidade e o foco, ao contrário dos meios eletrônicos, que são sempre multi-tarefa e estimulam a dispersão e a superficialidade. Conseguir manter o foco ao ler um livro inteiro no computador é tarefa para um mestre zen…
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Só complementando. Apesar de a infra-estrutura para pesquisa no Brasil não ser tão boa quanto no Primeiro Mundo, ganhamos de vários países desenvolvidos no que se refere ao acesso a publicações científicas. Sério, podem acreditar, aqui no Brasil é mais fácil conseguir um PDF do que em vários outros lugares. Portanto, alunos de universidades públicas, aprendam a usar as ferramentas sugeridas acima e aproveitem-nas!
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