Pergunte-me o que quiser! (3ª edição)

Mantendo a tradição do blog, está aberta a nova temporada de perguntas livres.

Há três anos aderi a essa moda e o resultado tem sido muito legal.

Pergunte-me o que quiser sobre a Jornada do Cientista, a carreira acadêmica, inquietações existenciais ou qualquer outro tema relacionado a ciência, educação e tecnologia.

Faça quantas perguntas quiser, na forma de comentários aqui neste post. Vou respondendo aos poucos.

Many People Thinking of Questions
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31 respostas para “Pergunte-me o que quiser! (3ª edição)”

  1. Boa tarde, Marco!
    Gostaria de te fazer o seguinte questionamento.
    No caso de alguém ter se graduado em um curso novo, que ainda não está presente em boa parte dos editais para docentes ou pesquisadores (ainda que contemple perfeitamente as atribuições para as vagas), o que se pode fazer? Apenas revindicar, a cada concurso, a inclusão do curso no edital junto às comissões organizadoras?
    Desde já agradeço!

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    1. Oi Gustavo, pois é, situação complicada. Vejo um monte de gente formada pelos cursos criados durante o Reuni ter esse mesmo tipo de problema. Na verdade, tem gente formada em cursos criados há décadas, como algumas graduações em Ecologia (separadas da Biologia), que passam pelo mesmo problema. No seu lugar, em concursos, eu faria isso mesmo: entraria em contato com os responsáveis e perguntaria se o seu título poderia ser considerado equivalente ao exigido. Mesmo alguns cursos regulamentados têm conselhos fracos, que acabam deixando outros conselhos irem avançando no espaço deles. No caso dos cursos não-regulamentados, sem reconhecimento pelo MEC e sem conselho de classe, não há ninguém que proteja o mercado deles.

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  2. Já que ainda está aberto a perguntas, aqui vou eu novamente : )
    Quais dicas/conselhos você daria para quem está querendo começar a se ‘arriscar’ na escrita científica em inglês?
    Obrigado.

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    1. Oi Patrick, obrigado pela nova pergunta! Vou deixar este espaço aberto por tempo indefinido. Bom, o primeiro passo é fortalecer o seu inglês, fazendo bons cursos, lendo bons livros no original, ouvindo músicas cantadas por pessoas com boa dicção, assistindo filmes em inglês com legendas em inglês etc. O segundo passo é ler bons manuais sobre escrita científica, especialmente o Pinker e o Heard. O terceiro passo é ler textos científicos prestando atenção não apenas ao conteúdo, mas também à forma. Ou seja, quando um artigo lhe agradar, tente entender o que o autor fez certo. Por fim, depois desses passos, pratique, pratique e pratique. Aquele papo de que para escrever bem basta ler bastante é meia verdade. É preciso escrever constantemente e sempre submeter seus textos à crítica alheia para ir progredindo.

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  3. Olá Marco! Primeiramente obrigado pelo espaço aberto para perguntas.
    Você acha que para um cientista ser reconhecido dentro de sua linha de pesquisa, é essencial que ele(a) tenha uma boa capacidade de oratória e divulgação? A minha impressão é que aquele pesquisador que tem o domínio e tranquilidade de falar em público tem uma grande vantagem em divulgar sua pesquisa, mesmo que ela seja um pouco “inferior” à pesquisa de colegas que não têm a facilidade de repassar a informação, e isso faz com que a pesquisa dele sobressaia em comparação aos colegas e seja mais reconhecido. Outra dúvida, quais dicas você daria para os mestres, doutores, postdocs melhorarem/aprimorarem sua capacidade de falar em público (em seminários, palestras, etc)? Muito obrigado!

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    1. Oi Diego! Bom te ver por aqui. Obrigado pela excelente pergunta.

      Sim, essas coisas se retroalimentam. Não adianta apenas fazer: você precisa também mostrar. E mostrar não apenas na forma de palestras, mas também via redes sociais. Precisa escolher para quem falar e como. Quem sabe se comunicar melhor geralmente constrói uma boa reputação mais rápido do que quem fica quieto num canto. O segredo é mostrar da forma certa, sem parecer arrogante ou chato. Há técnicas de comunicação para isso.

      Conheço cientistas brilhantes, com produção forte, que acabam bem menos conhecidos do que mereceriam por excesso de timidez. Só compensa a timidez quem tem uma produção realmente outlier, do tipo que todos acabam conhecendo porque é realmente groundbreaking. Mas esses aí são os top 1%, ou seja, exceção e não regra.

      Em termos de tornar a sua produção científica conhecida e aumentar as chances de as pessoas usarem as suas ideias e citarem os seus artigos, há ainda mais uma coisa importante. Não basta produzir ciência de boa qualidade e saber comunicá-la de várias formas: você precisa também fazer networking com os seus pares, freqüentando congressos e fazendo visitas técnicas e estágios.

      Com relação a melhorar a oratória, recomendo fazer bons cursos. Cursos de campo excelentes, como o EFA e o EcoPan, ajudam muito nisso. E também cursos de comunicação científica que são oferecidos por alguns PPGs. Além disso, veja excelentes dicas no livro das TED Talks: http://a.co/j4CNBTP.

      Um abraço!

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  4. Na tradução de um curriculum vitae acadêmico para o inglês (desses que os processos internacionais solicitam), o que pode ficar em português e o que deve ser traduzido ao inglês?
    Muito obrigado.

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    1. Ótima pergunta, Patrick. Isso gera muita dúvida mesmo. Eu, pessoalmente, traduzo quase tudo para o inglês. Deixo no original apenas nomes próprios, como instituições, por exemplo. No caso de publicações e cursos com título original em português, incluo a tradução entre colchetes logo depois. Por exemplo, “Mello MAR. 2017. Sobrevivendo na Ciência. [Surviving in Science]. Belo Horizonte: Edição do autor.”

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  5. Estes ask-me-anything são geniais 🙂
    Como você organiza seu tempo profissional e pessoal? Ou seja, como você organiza e concilia as atividades profissionais de ensino, orientação, pesquisa, blog etc e as atividades extra-profissionais, como hobbies e vida familiar? E você trabalha no blog durante suas “horas de trabalho” ou no seu “tempo pessoal” (supondo que você diferencia entre estes momentos)?

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    1. Oi Pavel! Ótimas perguntas! 🙂

      Começando pela segunda, edito o blog durante as minhas horas de trabalho.

      Voltando para a primeira, organizo o meu tempo usando a disciplina que aprendi no zen e no bushido. Além disso, peguei emprestadas técnicas dos métodos japoneses Kaizen e 5S e do método americano Getting Things Done. Ou seja, o meu dia e a minha semana são divididos em “gavetas”, como um grande armário. O meu dia começa às 6:00, sendo que até às 9:00 cuido do corpo e do espírito. Trabalho geralmente das 9:00 às 18:00 e, quando volto para casa, é hora de focar novamente na vida pessoal.

      Para dar um exemplo mais detalhado, toda quarta feira, das 14:00 às 16:00, é o meu tempo de ler literatura atrasada. Ou seja, artigos que escolhi para destrinchar a fundo e que eu não tive tempo de ler em outros momentos. Todas as manhãs, das 9:00 às 12:00, é o meu tempo de estudar coisas novas ou de cuidar de artigos em andamento, seja escrevendo ou analisando dados. Reuniões de um modo geral só marco à tarde e tento concentrar todas as reuniões de uma determinada semana em um mesmo dia. Os horários em que dou aula dependem das disciplinas que pego em cada semestre. E por aí vai.

      Além disso, nunca trato tarefas grandes como blocos únicos. Fazer isso é receita certa para travar por causa da ansiedade. Sempre divido as tarefas grandes em sub-tarefas e coloco cada uma dentro de uma gaveta do meu dia e da minha semana. A sensação de cumprir cada sub-tarefa retroalimenta a vontade de trabalhar aos poucos na tarefa grande.

      O segredo é simples: planejamento e disciplina. Muita disciplina.

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      1. Obrigado pelas respostas, Marco!
        E seguindo nessas perguntas – Quanto tempo você dedica à leitura de artigos, quantos artigos lê neste tempo, e como se organiza pra isso no geral? Eu já tentei várias vezes ler artigos regularmente mas até agora estou falhando miseravelmente, rs.

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        1. Oi Pavel, de nadis! Bom, primeiro, categorizo os artigos novos em três grupos: importantes, interessantes e whatever (do meu ponto de vista, é claro). Meu horário fixo para ler os importantes é quarta-feira, das 14:00 às 16:00, como te disse. Nesse tempo, entro em fluxo e consigo dissecar 3 ou 4 artigos. Ou menos, quando na fila está algum artigo absurdamente denso. Os artigos interessantes eu leio assim que os descubro. No caso desses, leio apenas abstract, figuras e parágrafos pivotais. Já dos whatever eu leio apenas o abstract. E. Assim, considerando os 3 grupos, leio cerca de 15 artigos por semana. Tem semanas em que leio menos ou nada, dependendo das atividades que tenho para fazer (expedição de campo, por exemplo). Em outras compenso e leio mais. Às vezes, reservo um dia inteiro para ficar em casa, lendo sem parar.

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    1. Sim, claro, com o maior prazer. Segue a minha playlist pessoal de blogs acadêmicos que eu leio regularmente:
      – Dynamic Ecology: https://dynamicecology.wordpress.com
      – Academic Life Histories: http://academiclifehistories.weebly.com
      – Uma Bióloga: http://umabiologa.blogspot.com.br
      – Cientista Zen: http://cientistazen.postach.io
      – Scientist Sees Squirrel: https://scientistseessquirrel.wordpress.com
      – Mais Um Blog de Ecologia e Estatística: https://anotherecoblog.wordpress.com/author/pdodonov/
      – Ecology is not a Dirty Word: https://ecologyisnotadirtyword.com
      – Small Pond Science: https://smallpondscience.com
      – Ecology Bits: http://ecologybits.com
      – Eco Evo Evo Eco: http://ecoevoevoeco.blogspot.com.br/

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  6. Professor Marco, primeiramente muito obrigado por abrir esses espaço pra dividirmos nossas dúvidas/questões existenciais. Oportunidades assim ajudam muito a gente! Indo para a pergunta, o que o senhor diria para um jovem no começo do doutorado que aspira pela carreira acadêmica mas tem dificuldades de encontrar uma área para despositar toda sua energia, sendo esta dificuldade fruto de gostar muito de muitas coisas? Eu sinto que trabalharia com praticamente qualquer grupo de animal (embora insetos, milipedes e anfíbios sejam os meus favoritos), e com abordagens ecológicas em qualquer nível, do indivíduo à escala de pasaigem. Pode parecer besteira, mas minha maior questão existencial, e a que me gera mais aflição desde a graduação, é encontrar um grupo/abordagem para me especializar… É humanamente impossível entender desses grupos todos e de toda a teoria ecológica com propriedade. Por isso por gostar tanto de tantas coisas muitas vezes opostas, vejo meu esforço sendo pulverizado em muitas coisas, e ao mesmo tempo em nada. :\

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    1. Oi Paulo, de nada. Pelo visto, você é biólogo e curte Ecologia, certo? Como você não tem preferência por um táxon específico (o que pode ser uma grande vantagem), meu primeiro conselho é focar em temas dentro da Ecologia.

      Você não precisa permanecer a carreira inteira trabalhando dentro da mesma área que estudou no doutorado. Pode experimentar outra área em um postdoc, por exemplo.

      Assim, meu segundo conselho é: experimente alguns temas que lhe parecem mais interessantes e não tenha medo de mudar, sempre que algo novo te interessar.

      Existem grandes ecólogos que fizeram carreiras brilhantes justamente pulando de galho em galho e ajudando a resolver problemas em várias áreas.

      A ciência do século XXI tende cada vez mais a ser transdisciplinar. Assim, não se preocupe em se especializar. Trate de aprender com apetite e desenvolver habilidades.

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    1. Obrigado por sua pergunta, Malu! Possível é. Mas você teria que arrumar um número suficiente de cientistas dispostos a abandonar a pesquisa e investir na política, além de alguns políticos dispostos a vestir a camisa da ciência. Talvez seja mais fácil começar formando uma bancada acadêmica na câmara e no congresso, composta por políticos sensíveis aos problemas da ciência, tecnologia e inovação. De qualquer forma, o ponto que você levantou é muito importante. A Academia precisa aprender a fazer lobby.

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  7. Sou Professor em início de carreira em uma Universidade Federal, quais os caminhos que posso seguir dentro do magistério superior? Identifiquei dois muito grosseiros, focar na pesquisa tendo como meta o nobel ou prêmio parecido ou focar na parte administrativa e ser reitor, ou função de alto escalão. Aguardo comentários e desde já agradeço!

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    1. Ou Lúcio! Obrigado por sua pergunta.

      Há muitos caminhos possíveis, porque ser professor universitário envolve realizar vários tipos de atividades. Para se guiar, pense primeiro nos cinco grandes pilares da nossa atuação: ensino, pesquisa, extensão, administração e orientação. Você pode servir bem a universidade, a academia e a sociedade focando em qualquer um desses pilares.

      Minha recomendação é só escolher um foco entre os primeiros quatro pilares. A orientação você acaba fazendo de um jeito ou de outro, cuidando de pupilos em um ou mais desses quatro pilares. Não tente ser um faz-tudo, porque “Jack of all trades is master of none”, na maioria dos casos.

      Tendo escolhido o seu foco, há vários caminhos possíveis dentro de cada um dos pilares. Por exemplo, quem foca em pesquisa pode seguir o caminho de small science ou big science, ciência básica ou aplicada, etc. Quem opta por concentrar suas energias no ensino pode se especializar em graduação ou pós-graduação, pode decidir cuidar da formação de professores do ensino básico, etc. Na extensão, as opções são ainda maiores, indo desde ser um curador de museu até fazer divulgação científica na imprensa. E, por fim, na administração, você pode focar em fazer parte de sociedades científicas, ONGs e OSCIPs em geral, ou então trabalhar na administração da universidade, ocupando cargos como chefe de departamento, diretor de instituto, pró-reitor, reitor etc.

      “Search your feelings”, experimente coisas diferentes e faça, aos poucos, a sintonia fina do seu ikigai.

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    1. Oi Patrick, conheço como “umbrella project” mesmo. Às vezes você ouve falar deles como “big grants”, informalmente. Tem diferentes termos para isso, que variam entre países. Nos EUA, UK e Alemanha, esse tipo de projeto é super-comum. A filosofia de fomento nesses países, via de regra, é dar mais grana para menos gente, contemplando apenas os ranqueados no topo de cada avaliação. Seria o oposto da filosofia do CNPq, que prefere dar menos grana para um número maior de pesquisadores. A FAPESP, por outro lado, fica mais para o caminho do meio nesse quesito. Assim, projetos guarda-chuva acabam sendo muito comuns nesses países que apostam no “tudo ou nada”. Geralmente, muitos cargos temporários, bolsas de pós-graduação e postdoc, e grants menores são concedidos dentro desses projetões.

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