Pelo quinto ano consecutivo abrimos um post dedicado a perguntas livres no mês de agosto.
Você pensa em seguir a carreira de cientista?
Você fica intrigado com o que faz o copy editor de uma revista?
Você não entende como a pesquisa é financiada no Brasil e no mundo?
Pergunte-nos o que quiser! Não temos respostas para tudo, mas gostamos de debater questões consideradas por muitos como triviais ou espinhosas. Aqui no blog, somos uma equipe (Marco, Alexandre e Renata) composta por pessoas em diferentes fases da carreira acadêmica, com diferentes perspectivas.
Faça quantas perguntas quiser, direcionadas a um de nós ou a todos, na forma de comentários aqui neste post. Responderemos aos poucos e manteremos o post aberto durante o mês todo.
Olá pessoal!
Na opinião de vocês, qual o momento ideal para qualificar uma dissertação de mestrado? O que o texto precisa ter para estar apto a passar por esta etapa?
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Oi Rômulo, o mais importante é consultar as regras do seu PPG junto à secretária e ficar atento aos prazos de qualificação. Via de regra, recomendo não deixar para a última hora. Isso porque você pode ser reprovado na primeira tentativa, aí precisará de tempo para investir na segunda. Procure qualificar tão logo atinja os critérios mínimos exigidos, para poder focar na tese depois. Quanto à qualidade em si, isso varia muito de curso para curso, então pergunte ao seu coordenador e também ao seu orientador. Boa sorte!
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Oi Marco!
Aonde uma letter deve ser inserida no lattes? No campo “Artigos completos publicados em periódicos” ou em “Texto em jornal ou revista (magazine)”? Na minha percepção uma letter não é um artigo e sim um texto em uma revista científica, mas em contrapartida letters de revistas renomadas tem JCR, DOI e tudo mais, informações que só aparecem se a pessoa inserir no campo “Artigos completos publicados em periódicos”…
Saudações!
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Oi Cássio, concordo contigo. Esses textos que não se encaixam burocraticamente nas categorias artigo, livro ou capítulo sempre geram confusão. Eu colocaria letters na seção “Produções>Produção bibliográfica>Outra produção bibliográfica”. Foi onde eu coloquei, por exemplo, uma Oxford Bibliography que publiquei este ano. É onde também tenho colocado meus preprints. Um abraço!
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Obrigado Marco. Abraço!
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Olá pessoal!
Conversando recentemente com um professor à respeito de seleções para bolsistas de IC aqui em Minas ele me disse: “No meu tempo apenas os melhores alunos faziam IC, hoje o que faz de tudo menos estudar tem”. Estou por fora do assunto mas percebo que hoje em dia para fazer IC o aluno não precisa de um coeficiente de rendimento satisfatório. Mesmo alunos quase recebendo uma “cartinha de jubilamento” ostentam status de bolsita de IC no facebook. Vejo alguns professores tendo problemas com relatórios finais, até fazendo pro aluno, temendo inadimplência. O critério de seleção apenas está visando o currículo do professor? É assim em todas as universidades ou destá variando de acordo com o orgão de fomento? E vocês concordam que essa falta de critério para a seleção de bolsistas de IC acaba prejudicando a qualidade não somente dos projetos (muitos alunos não fazem nem sequer um resumo de congresso com a IC), mas trazendo também muitos alunos paraquedistas para a pós gradução, já que nos dias de hoje é raro um mestrado com entrevista?
Saudações!
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Oi Cassio, esse problema é real mesmo, infelizmente. Há muitos erros no sistema de bolsas em vários níveis. Em se tratando da IC, a coisa é mais problemática no caso das bolsas PIBIC, distribuídas através de critérios internos de cada universidade, sem muito controle de órgãos externos. As bolsas atribuídas pelas FAPs estaduais costumam seguir critérios mais transparentes e sólidos. Obviamente há vários tons de cinza, indo desde universidades que fazem um processo rigoroso e transparente, até aquelas que usam critérios questionáveis. Nosso sistema acadêmico é gigante e heterogêneo, não dá para generalizar nada. Acima de tudo, acho que precisamos repensar e discutir o que significa uma IC e para que serve uma bolsa acadêmica, pois muito dinheiro público, além de tempo e energia pessoais, são desperdiçados com escolhas mal feitas. E os maiores prejudicados muitas vezes são os próprios alunos, que se enganam e são enganados. Já tratei do tema em alguns posts aqui, pois ele tem várias faces. Há pontos bem complicados nessa discussão, como por exemplo alunos que recebem bolsa sem merecer, atribuídas por professores que só querem fazer volume no currículo e ganhar pontos em avaliações baseadas em quantidade. Nosso sistema de avaliação individual acadêmica, infelizmente, ainda privilegia quantidade ao invés de qualidade, em muitas instâncias.
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Olá!
Inicialmente gostaria de parabenizar a equipe deste blog pelo excelente material que é disponibilizado. Sou leitor de vocês há algum tempo, e sempre recomendo-os para colegas que estão nesse mesmo “barco”. 🙂
A minha pergunta é: qual é a opinião de vocês com relação ao “future-se”?
Abraços e obrigado!
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Oi Silas, de nada! 😉 Ainda não tive tempo de me informar direito sobre o programa, então não tenho opinião no momento.
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Oi Silas,
Muito obrigado por acompanhar a gente!
A sua pergunta é muito pertinente ao momento atual das coisas, mas infelizmente eu não estudei o suficiente para ter uma opinião.
Foi mal por não ser de mais ajuda.
Abraço,
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Oi Marco,
Pergunta de professor fresco: Como lidar com orientados, de forma geral? Por exemplo, posso (ou devo querer) ser amigo dos mestrandos e doutorandos?
Acho que isso merecia um post inclusive 🙂
Obrigado,
Diogo
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Oi Diogo, nossa, pergunta difícil essa, rs. Isso vai de cada um. Tem colegas que preferem ficar mais próximos dos alunos, outros preferem manter distância. E há todo um gradiente de cinza entre esses extremos.
Eu, pessoalmente, fui aos poucos me distanciando dos alunos, tanto os de disciplinas quanto os orientados do laboratório, conforme fui fazendo as transições aluno>postdoc>professor e ficando mais velho. O risco de mal-entendidos e chateação para ambos os lados sempre é alto, quando se mistura o profissional com o pessoal. Além disso, vivemos uma época de grandes tensões sociais, inclusive nas relações entre professores e alunos, geradas por ideologias dos mais variados matizes.
Assim, ao longo da minha carreira, fiz amizade com poucos alunos e colegas e tento manter as camadas da minha vida (trabalho, amigos, família, hobby etc.) separadas entre si. Uma vantagem adicional é que, quando uma camada não vai bem, posso me refugiar em outra. Mas, naturalmente, isso não é uma receita que deva ser seguida por todos. Funciona bem para mim, que sou introvertido.
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Olá Diogo,
pois é, cada caso é um caso. Vou comentar minha visão enquanto doutoranda. Eu acho que não conseguiria ter um orientador pelo qual eu não sentisse empatia ou não admirasse como role model. E eu vejo meus orientadores como amigos, sinto que posso contar com eles na alegria e na tristeza. Mas eu sou sortuda, pois meu “santo bate” muito com o Miltinho (atual orientador) e Marco (mentor da vida e orientador durante a IC). Para mim, o doutorado é muito longo e envolve muita energia vital para que a relação entre orientador e aluno só contemple assuntos científicos e burocráticos. Isso porque a relação mestre-aprendiz não é igual à relação chefe-empregado. Mas como o Marco disse, há todo um gradiente de cinzas.
Também acredito que o componente “socializar” e “tomar uma cerveja após o expediente” pode ser muito produtivo tanto pra vida pessoal quanto pra vida acadêmica. Entretanto, quando estabelecemos o rótulo de “amizade”, expectativas a mais podem acompanhar a relação, e isso pode tanto ajudar quanto atrapalhar. Mas todo mundo sabe que há um componente ódio/amor entre aluno e orientador, e isso faz parte das relações humanas. Amigos brigam, orientadores e alunos também. Se essas brigas inviabilizarem a continuidade da colaboração, uma lição pode ser aprendida dos dois lados.
Eu hoje considero que no fim das contas é sempre bom ter uma “distância de segurança” do seu aluno/orientador, pois todo mundo quando é olhado de muito perto acaba ficando feio 😀 Agora qual é essa distância, a gente aprende durante a jornada..
abs,
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Me enfiando um pouco no assunto, gostaria só de complementar um pouco a fala do Marco e da Renata.
Na minha cabeça, cada caso é um caso. Há orientados que você vai ter uma conexão maior, outros uma conexão menor. Então, é natural que você se aproxime mais de uns do que de outros. Além disso, há estilos de orientação. Você pode querer acompanhar tudo mais de perto, deixar os alunos um pouco mais soltos. Isso sem contar na tua própria personalidade – pessoas mais extrovertidas provavelmente ficam mais amigas dos alunos do que introvertidas. Tudo isso dependerá tanto do aluno quanto de você. Orientações, ao contrário de relações empregatícias, possuem muitas nuances para ter apenas uma forma de fazê-las.
Na minha cabeça de ecólogo evolutivo, não há um “fenótipo” ótimo de orientação – muito menos um “fenótipo” ótimo para ser orientado. Há uma infinidade de “fenótipos” ótimos para orientação e para ser orientado. A relação mais proveitosa ocorre quando o seu “fenótipo” de orientação encaixa com o “fenótipo” do aluno a ser orientado. Então, modular MUITO a forma de orientar (e ser orientado) para se encaixar no outro indivíduo é muito complexo, demanda muita energia. O que devemos tentar é escolher alunos que se adequem bem a nossa maneira de orientar.
Enfim, essa é a opinião (quase utópica) de alguém que ainda tem poucos alunos, mas não acredito que tenha uma fórmula mágica. Há aquela na qual você e seu aluno se sentem a vontade.
Abraço,
Alexandre
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Oi Marco! Queria dizer que esse post “Pergunte-nos o que quiser!” é excelente e acredito que retira muitas dúvidas de muita gente!
Gotaria de fazer mais umas perguntas (pode? não sei se é quantas vezes quiser… rsrs)
1) Você fala muito de disciplina no seu blog. Gostaria de saber se você sempre foi disciplinado mesmo antes de entrar na academia, naturalmente reforçando ainda mais essa disciplina depois ou se no meio da sua jornada você a adotou.
Agora umas mais polêmicas, que acho inclusive que dariam ótimos posts:
2) Você mesmo já falou em aguns posts de como as editoras estão controlando e faturando com o conteúdo científico, faturando em todo o processo de publicação (e também depois dele, sendo que não pagam nada para os revisores!). Pois bem, gostaria de saber a sua opinião sobre o Sci-Hub, você acha válida a iniciativa criada por Alexandra Elbakyan? (Não pela ilegalidade mas no sentido de abrir as portas do conhecimento pago).
3) Qual o critério que você acha que deve ser estabelecido para se coautorar um artigo? Acredito que para se coautorar um artigo a pessoa tenha que participar de pelo menos 2/3 da elaboração do mesmo. Tipo, vamos imaginar um trabalho ecológico do zero: campo, suas coletas, triagens, morfotipagens, análises, escrita, processo de submissão (normas, tradução e tudo mais). Em quantas etapas você acha que a pessoa tem que participar? Lembrando que de repente uma pessoa pode ter uma ajuda muito grande em uma etapa dessas, sendo crucial para o desfecho do paper… Me parece que a falta de planejamento das pessoas em definir esses critérios acaba gerando muita confusão, como pessoas que ajudaram somente em uma coleta se achando no direito de entrar em trabalhos, e, por outro lado, pessoas que contribuíram muito, se sentindo usadas por não serem lembradas nem na coautoria, enquanto um cientisa mais experiente entrou só pelo nome na área…
Essa pergunta não é focada em dissertações e teses em que geralmente entra o estudante junto com o orientador e às vezes mais um coorientador ou faixa preta que ajudou nas análises do aspira, mas sim em projetos paralelos.
Saudações!
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Oi Cássio, de nada! Pode perguntar o que quiser, o quanto quiser. 😉
Indo por partes:
1. A disciplina sempre veio naturalmente para mim. Mas ela foi reforçada em casa, pelo meu pai, que sempre deu muito valor à ordem. E depois foi consolidada nas artes marciais, a minha maior paixão depois da ciência. Acho que as artes marciais e os esportes em geral são ótimos para aprender disciplina, perseverança e superação.
2. Na minha opinião, nem tudo que é ilegal é imoral. Por isso, admiro iniciativas disruptivas, como o Napster, que mudou a forma como consumimos música em formato digital. O SciHub está iniciando na publicação acadêmica o mesmo tipo de revolução e discussão. Já viu esta matéria da Superinteressante sobre o tema: https://super.abril.com.br/ciencia/a-maquina-que-trava-a-ciencia/?
3. Esse é um dos temas mais espinhosos na Academia e não há um conjunto de regras de autoria universalmente aceitas. Tratei do tema aqui, nos primórdios do blog: https://marcoarmello.wordpress.com/2012/04/17/coautoria/. Resumidamente, para mim o mais importante é negociar as regras de autoria entre os participantes de um projeto antes mesmo de ele ser executado. Aí, de acordo com o andar da carruagem, o líder do projeto pode conferir quem realmente cumpriu o combinado ou não, fazendo mudanças na lista e na ordem de autores conforme necessário, e sempre debatendo essas mudanças com o grupo.
Um abraço!
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Obrigado pelas respostas!
1) Realmente artes marciais trazem uma disciplina fundamental que ajuda na vida toda!
2) Que matéria boa! Não tinha visto ela, obrigado!
3) Não conhecia esse post, realmente um dos temas mais espinhosos na Academia, parabéns pela atitude de colocar o dedo na ferida! Falou tudo!
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Me intrometendo um pouco:
1) Para quem não tem naturalmente disciplina, há maneiras de treiná-la. Eu comento um poucos disso aqui: https://marcoarmello.wordpress.com/2018/03/08/prazospg/ (shameless self promotion)
Além disso, um bom psicólogo cognitivo-comportamental pode ajudar nisso. Eles possuem dezenas de exercícios excelentes para diminuir vícios e treinar hábitos mais saudáveis.
Eu também estou escrevendo um post sobre paciência que tem a ver com essa parte de disciplina. É só eu ter um pouco mais de paciência para escrever que ele sai…
3) Esse é o tema mais espinhoso e que mais causa problemas e rusgas na academia. Se quiser deixar a negociação mais direta e transparente, há revistas que pedem uma declaração do que cada um dos autores fez para o trabalho. A Royal Society pede uma declaração dessas no fim de cada artigo: https://royalsociety.org/journals/ethics-policies/openness/
Abraço,
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Que bom mais uma possibilidade de receber dicas de vocês. Adoro o Blog e sempre acompanho todas as publicações, tenho tentado colocar em prática as dicas e têm dado certo.
Hoje gostaria da opinião de vocês como pesquisadores experientes que são, na seguinte questão:
No Brasil, compensa fazer o doutorado direto?? (sem fazer antes o mestrado).
Faço IC desde o meu primeiro período da faculdade, formo ano que vem e surgiu a possibilidade (nada certo ainda) de tentar o doutorado direto.
Na opinião de vocês quais são as vantagens e desvantagens de seguir no doutorado direto? Quais serão os maiores desafios que irei enfrentar?
Já li algo sobre aqui no blog e li também alguns textos sobre, porém gostaria de uma opinião sincera de vocês sobre o doutorado direto de acordo com a realidade brasileira.
Outra pergunta: Marco adoro o texto sobre a jornada do cientista, sempre leio quando estou desmotivada. Como faço para entrar em contato com você para que vermos a possibilidade de você vim dar esta palestra da Jornada do Cientista na UFOP?
Agradeço a atenção de vocês.
Abraços
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Oi Daiana, muito obrigado!
Quanto ao convite para palestrar, obrigado novamente! Você encontra o meu e-mail, assim como o da Renata e o do Alexandre, aqui na página Contato, que leva aos nossos sites pessoais.
Voltando ao primeiro ponto, não curto muito a ideia do doutorado direto. Acho que a pressa é inimiga da perfeição, especialmente na Jornada do Cientista. Por isso, recomendo que todos sempre reflitam com calma antes de partir para cada nova etapa, sem queimar etapas.
Ainda mais porque mesmo os alunos mais talentosos saem da graduação meio crus aqui no Brasil. É diferente do que acontece em outros países, como Alemanha e EUA, onde a graduação geralmente é mais longa e mais focada na autonomia, com o curso estruturado por pedagogia ativa.
O maior choque que os aspiras brasileiros sentem ao saírem da graduação e ingressarem na pós-graduação é justamente o quanto, de repente, eles são cobrados para se virarem sozinhos. O mestrado serve como uma espécie de tampão, em que o aspira já precisa se tornar menos dependente dos professores, mas tendo que elaborar um projeto mais simples e por menos tempo. O doutorado é um compromisso mais longo, pesado e complexo.
Conheço pessoas que fizeram o doutorado direto e sentiram muito forte o baque. Elas, para piorar, acabaram saindo do doutorado ainda meio cruas. Isso porque formação não significa apenas absorção de conteúdo, mas também desenvolvimento por experiência prática. Além disso, fazendo a jornada completa você tem a oportunidade de construir um currículo mais robusto, melhorar a sua rede de contatos e maturar suas habilidades. Tudo isso melhora a sua competitividade no mercado acadêmico, depois que você tiver que partir para a disputa por bolsas ou empregos.
De qualquer forma, esses revezes ficam menos graves em uma outra modalidade de doutorado direto, em que o aluno chega a fazer o mestrado, mas, antes da defesa, converte-o em doutorado. Só que mesmo essa modalidade eu não recomendo.
Bom, a minha sugestão final é não ter pressa, aproveitar a jornada. Até mesmo porque no fim dela as oportunidades de emprego são escassas.
Boa sorte nos seus estudos!
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Marco, muito obrigada pelos conselhos. Com certeza tenho pensado bastante sobre aproveitar a jornada, seja para crescimento pessoal e profissional. É sempre muito bom ouvir conselhos de pessoas que realmente cruzaram esta linha que é tão árdua de ser cruzada. Irei salvar os seus conselhos aqui e ler sempre que preciso for.
Obrigada a vocês por este Blog que nos ajuda tanto.
Assim que possível entrarei em contato sobre a palestra.
Abraços!!!
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😊
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Eu concordo com o Marco falou em gênero, número e grau.
O doutorado direto é uma ferramenta interessante para diplomar pessoas, mas acho que só deveria ser usada em pouquíssimos casos, como, por exemplo, quando a pessoa já é mais velha e possui uma boa experiência no mercado de trabalho e com pesquisa. Ilustrei esse caso para frisar uma das características fundamentais para se fazer um bom doutorado: a maturidade. A maturidade não vem da graduação e nem necessariamente do doutorado. A maturidade mas vem da sedimentação das experiências da vida e o auto-conhecimento.
Apesar de ter feito mestrado, fiz tudo direto e defendi meu doutorado com 27 anos. Hoje, quase três depois, consigo dizer tranquilamente que sai cru do doutorado. O período de pós-doutorado foi essencial para minha sedimentação como cientista. O interessante é que sai cru não por causa da falta de conhecimento teórico ou prático (acredito) – foi apenas a falta de maturidade que vem com a idade e com o auto-conhecimento. Hoje eu entendo que há coisas que só o tempo traz. Algumas pessoas certamente saíram do doutorado bem mais maduras e mais novas que eu, mas, no geral, é melhor não queimar etapas.
Como o Marco bem falou, de tempo ao tempo. A ciência não é uma profissão em que você atinge seu pico de desempenho com 25-30 anos. Então, não tem porque acelerar um processo que requer amadurecimento.
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Grande Marco Mello
Parabéns pelo excelente trabalho. Acompanho o blog há quase 3 anos e ele contribuiu muito para minha formação como cientista. Terminei o doutorado esse ano, e vou para o meu primeiro concurso.Estou seguindo sua cartilha e falta apenas dois módulos para estudar. Hoje saiu a lista de inscritos aceitos e estou nela. Além de sua cartilha ou pacotão(rss), tenha mais alguma sugestão para me ajudar? Um abraço e muito sucesso.
Heverton Alves Peres
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Obrigado, Heverton! Além das dicas que já dei nesses textos, sugeriria calma na reta final, quando estiver chegando a hora do concurso. Prepare-se com afinco até uma semana ou uns três dias antes. Desse ponto em diante, foque em relaxar a mente e o corpo, fazendo coisas que te tranquilizam, como meditar, lutar, correr, cantar, surfar etc. Volte a focar a mente no concurso apenas na véspera e no dia D, como faz um bom lutador, no vestiário, antes de subir ao ringue. Boa sorte!
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Obrigado meu amigo. Te falo sobre o resultado.
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Olá a todos!
Assim como muitos, sou grato à criação deste blog. Minha infelicidade foi não ter conhecimento dessa preciosidade para a vida acadêmica antes. Quando conheci o blog já estava no final dos 25 anos de formação…
Atualmente, dou aulas para alunos de graduação. Ainda não tem uma Pos em minha área na Universidade. Ao iniciar o semestre, dou dica de estudos e sempre menciono o blog de vocês, deixando depois o link para os interessados acessarem.
Ainda tenho uma pergunta que, a meu ver, não é tão simples responder. Como acompanhar uma aula e um curso, principalmente da pós graduação? Por vezes fico pensando em como cientistas bons, como aqueles que recebem prêmios e reconhecimentos merecidos tiveram uma rotina de estudos. Como continuar estudando assuntos novos, relevantes (e por vezes desafiadores) após a formação? Percebo que a habilidade de ter a maestria em assuntos novos (além dos “já aprendidos”), aprendendo/assimilando bem, é importante na carreira do cientista. Acho desafiador ser um bom estudante, no sentido de se conseguir aprender bem e por demanda, pois vivemos numa cultura que valoriza o ensino e aprendizagem de forma passiva (como: ‘não aprendi isso pois o professor não ensinou’, etc).
Gratidão novamente!
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Obrigado, Aldo! Excelente pergunta.
De fato, continuar aprendendo não apenas informações, mas habilidades novas, é essencial para um cientista não se tornar obsoleto. Na verdade, aprender é a coisa mais divertida da nossa carreira, além de ser o maior motivo para termos ingressado nela, não é mesmo? Então aprender deveria ser sempre a nossa prioridade número 1.
Bom, apesar das falhas do nosso sistema educacional, é preciso fazermos uma transição gradual para nos tornarmos autodidatas. No meu lab, estimulo muito que os meus alunos reaprendam a aprender, caminhando passo a passo rumo à independência. De fato, como você comentou, é um trabalho árduo, dado que somos treinados para a passividade do infantil até a graduação. É só na pós-graduação que, do nada, começam a nos cobrar mais autonomia, pelo menos nas teses.
No caso dos cientistas profissionais, que já concluíram a jornada, penso que não podemos depender de cursos formais e presenciais para aprender habilidades novas. Naturalmente, sempre há exceções, mas por definição devem ser poucas. O ponto é não ficarmos mais passivos esperando alguém nos ensinar as coisas, mas metermos a cara nos livros, cursos livres online, workshops etc. A maior dificuldade é arrumar tempo para isso. Contudo, essa falta de tempo típica da “vida adulta” também nos empurra para o autodidatismo, pois não temos como liberar grandes blocos de tempo para aulas em horários fixos.
O que eu faço é reservar blocos de tempo, mesmo que pequenos, em um ou dois dias por semana a cada semestre, para estudar habilidades novas que me interessam. Isso, além do feijão-com-arroz, que é ler papers e livros técnicos. No momento, estou focado em melhorar na programação.
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Posso me intrometer? 🙂
Tempos atrás diz um curso de produtividade… E uma lição importante do curso foi a seguinte:
Podemos classificar nossas tarefas/atividades em quatro categorias:
– Atividades urgentes e importantes – aquelas atividades que surgem com prazos curtos, ou aquelas que acabamos deixando para a última hora (talvez por causa de outras atividades que surgiram com prazos curtos);
– Atividades não urgentes mas importantes – coisas que lhe vão trazer um crescimento e benefícios de longo prazo. Acho que estudar e aprender novas habilidades se encaixa nisso! Assim como organizar seu espaço de trabalho, etc.
– Atividades urgentes e não importantes – tipo responder aquela mensagem no facebook, talvez? Coisas que têm prazo curto mas podem ser ignoradas sem grandes consequencias.
– Atividas não urgentes e não importantes – aquelas coisas que não precisam ser feitas mas acabam ser feito mesmo assim.
A tendência é focarmos sempre nas coisas urgentes, sejam urgentes ou não. Responder emails o tempo todo, estar sempre resolvendo algo com prazos curtos… E isso é ruim, pois ficamos na reatividade e isso acaba com nosso planejamento de longo prazo.
A recomendação é então reservar um tempo (duas horas que sejam) toda semana para focar em atividades importantes e que não são urgentes. Detalhe: deve ser um horário bom, quando você consegue se focar naquela atividade. Nada de encaixar naquela única tarde sem reuniões! Acho que isso é basicamente o que Marco faz, reservando blocos de tempo para aprendizado de coisas novas.
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Ótima contribuição, Pavel! Para organizar essas coisas na prática, uso o método GTD: https://gettingthingsdone.com.
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Olá!
Primeiro queria parabenizar o prof. Marco Mello pelo ótimo blog, que é impar aqui no Brasil, trazendo as melhores informações para quem quer trilhar o caminho da ciência!
Queria perguntar qual a opinião geral de vocês a respeito desse novo Qualis unificado que deve entrar em vigor em breve, e dentro desse assunto gostaria que respondessem alguns pontos (sou do doc de Eco da UFMG e meus exemplos são em biodiversidade):
No final das contas será criado mais 1 estrato (A1, A2, A3, A4, B1, B2, B3, B4 e C), totalizando nove, então será que um artigo que é B2 (quarto estrato atual) e será B1 (quinto estrato na nova classificação) (ex: Acta Botanica Brasilica, Biota Neotropica, Brazilian Journal of Botany, dentre outras) realmente melhorou no final das contas?
Outra coisa, essa unificação não prejudica o filtro das áreas nos editais de seleção de uma maneira geral?
Exemplo grosseiro: Uma revista A1 em engenharia não pode valer mais que uma B1 dentre essas que citei em um PPG na área de biodiverisdade.
Por exemplo, atualmente no PPG de Eco da UFMG para se ingressar no doc é necessário no mínimo um artigo B2+ em biodiversidade, sem essa separação por áreas e com a criação de mais estratos esse barema não fará mais sentido mais no ano que vem.
Vocês não acham que o caminho será avaliar a produção via fator de impacto dentro de uma área para os processos seletivos de uma maneira geral, esquecendo esse novo Qualis?
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Obrigado, Cássio! Bom, pessoalmente, não sou muito fã do sistema Qualis. Apesar de ele ter sido criado com boa intenção, acabou gerando distorções que, atualmente, prejudicam a formação de alunos e a avaliação de cientistas e instituições. Acho especialmente equivocado o Qualis ser usado em processos seletivos, seja de alunos, postdocs ou professores. Ele criou uma cultura aqui no Brasil em que, ao se contar sobre um novo paper publicado, a primeira pergunta que se houve dos colegas é “onde?” e não “o que?”.
O primeiro ponto da minha crítica você já mencionou: não faz sentido categorizar uma métrica que é contínua por natureza. Acabam sendo achatadas em um mesmo estrato revistas que diferem enormemente entre si em termos de fator de impacto, qualidade editorial e reputação. Além disso, a questão da aderência, introduzida nos últimos anos, vai totalmente na contramão da multidisciplinaridade e transdiciplinaridade, obrigando os cientistas a ficarem presos dentro de gavetas temáticas. Em pleno século XXI, temos a resolver vários problemas que não podem ser enquadrados dentro de disciplinas únicas.
Essas avaliações quantitativas foram úteis para sacudir a ciência no Brasil nos anos 90 e começo dos anos 2000, mas agora precisam ser revistas. Temos que tomar cuidado com um sistema baseado fortemente em números, pois ele pode e está sendo gamificado.
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Gostaria de adicionar aqui que ainda não temos certeza como esse qualis será usado. Eu não sei porque a diretoria liberou o qualis novo sendo que eles só vão explicar tudo na reunião entre coordenadores final de Agosto. Mas, liberaram o qualis para nós especularmos. A forma como vão usar, porém, ainda não foi revelada.
Além disso, a mudança no qualis provavelmente também acarretará em mudanças nas seleções dos PPGs que cobram artigos publicados em cada um dos estratos. O mesmo acontecerá com os concursos (espero).
Então é difícil saber exatamente qual será a magnitude da mudança necessária nos PPGs para incorporar esse qualis. Eu gosto de ver pelo lado positivo e pensar que pelo menos estão tentando deixar o qualis menos enviesado. Mas, como toda métrica (incluindo o fator de impacto), ela sempre será enviesada e gamificada. Fica a seu critério como usar e interpretar essas métricas que mudam ano sim ano não. Só tome cuidado pra não levar tudo ao pé da letra, pois se alguma regra importante mudar, é você quem se dá mal.
Para finalizar, gosto de falar do post da Renata sobre como essas métricas funcionam (https://marcoarmello.wordpress.com/2019/07/22/impacto/): “Não sei o que achar desse índice, mas fico felizinha quando ele sobe.”
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Queria saber sobre fontes de financiamento para auto-sustentação dos profissionais de pesquisa (mestrado, doutorado, etc). Sempre encontro editais de fontes para o financiamento técnico dos projetos, mas nunca para fomento do pesquisador em si. Além das governamentais, há meios de se financiar isso exclusivamente com fontes nacionais?
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Olá Diego,
Cara, essas fontes de auto-sustentação no Brasil são só por meio de bolsas mesmo. Mesmo na FAPESP que você pode pedir o próprio salário vem descriminado como bolsa de pesquisa. Acho que usam esse nome guarda-chuva para qualquer financiamento de “salário” pela questão jurídica e de impostos do pais (mas isso é um grande achismo meu). A forma de encontrar esse tipo de financiamento depende muito da tua área, porque aí depende do interesse de empresas, ONGs e afins. Por exemplo, eu sei que a Petrobras financia algumas bolsas de mestrado e doutorado na região costeira e que a Bayer financia bolsas na entomologia. Fica difícil dizer algo mais específico que isso, mas posso te dizer que bolsas não-governamentais são bem mais raras.
Abraço!
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E, depois do doutorado, existem as oportunidades de emprego como professor universitário, pesquisador, data scientist, empreendedor etc. É sempre importante a gente lembrar disso, pois tendemos a focar nos pós-graduandos, quando debatemos o financiamento pessoal dos cientistas.
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Oi Diego (Dieguitinho),
acho que a resposta do Alexandre contempla bem “o que tem pra hoje”. No exterior, os mestrandos e doutorandos acabam também pegando tarefas de TA (assistente de professor) para complementar a renda. Em muitos casos, os pós-graduandos nem tem bolsa específica de mestrado/doutorado, então fazem pesquisa com o dinheiro que ganham como TA.
Aqui no Brasil isso seria o equivalente dos “bolsistas didáticos” ou “estágio supervisionado em docência” da CAPES. O valor pago é uma mixaria, mas é dinheiro que entra e experiência de ensino que se ganha.
Também é possível no exterior ser pago para corrigir “assignments” que é basicamente a lição de casa da galera da graduação. Como nenhum professor é gamado em corrigir provas e outras tarefas, isso é terceirizado para pós-graduandos.
Boa sorte na sua pesquisa e no seu financiamento também 😀
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Adoro esses posts 🙂
O que vocês aprenderam escrevendo para o blog? Que habilidades adquiriram ou melhoraram? E em linhas gerais, o que o ato de “blogar” representou para os seus crescimentos pessoais e profissionais?
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Eaí Pavel, tudo belezinha?
Cara, acho que o principal foi aprender que acadêmicos tem os mesmos problemas e ansiedades independentemente da área em que estão inseridos. Parece algo trivial e que todos sabem, mas foi só depois de confrontar o “mundão” escrevendo para o blog é que eu finalmente entendi. Isso também me levou ao meu maior crescimento pessoal e profissional que é me comunicar melhor. Sempre tendi mais ao tímido e introvertido, com medo de me expor. Por isso, comunicação nunca foi meu forte. O blog ajudou muito nisso – aprendi a me conectar melhor com as pessoas.
(Estranho pensar que o ato de “blogar” não tem nada a ver com escrita. Não tinha percebido isso. Valeu Pavel!)
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Oi Pavel! Além do que o Alê falou, que eu assino embaixo, melhorei a minha capacidade de escrever no estilo narrativo, fugindo das dissertações típicas da Academia. O blog também ampliou muito as atividades de extensão na minha carreira. Hoje, uma grande parte do meu tempo é dedicada a discutir e palestrar não apenas sobre ciência, mas também sobre a carreira de cientista em si, além de colaborar com a imprensa em matérias.
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Oi Pavito ito,
sem dúvida, o blog me deu upgrades em organização e clareza na escrita. Essas skills acabam também por ser importantes no meu dia-a-dia de doutoranda e é algo que vou levar pra vida toda. Além disso, o blog me permite ser mais criativa na escrita do que na minha escrita de artigos, que acabam por ter um formato mais engessado.
Por fim, como o Alexandre comentou, é muito legal ver angústias em comum. O Marco e o Alexandre estão em momentos de vida diferentes do meu, e por causa do blog nós discutimos esses momentos (nossos e dos leitores também) e com eles temos ideias novas do que trazer para os leitores aqui. É muito aprendizado!
E você? O que aprendeu escrevendo para seu blog?
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Massa! Obrigado pelas respostas!
Me identifiquei com as suas respostas. Pra mim é similar… Embora não tenha melhorado minha capacidade de organização, minha escrita pro blog é um tanto aleatória! rs É legal poder também escrever sem pensar no estilo científico de escrita, e tentar colocar algo de Adams, Gaiman e Tolkien na escrita 🙂
Pra mim foi bom para praticar mais a escrita em português (pois artigos são todos english, com raríssimas excessões!) e acho que foi útil para desenvolver habilidades didáticas, de como conseguir explicar coisas por vezes complicadas de forma relativamente simples, por escrito. E é escrevendo e explicando um assunto que de fato se começa a sistematizar ele na própria mente e a, eventualmente, entender, né?
E fez bem para minha auto-estima – é bem legal quando alguém comenta que conhece meu blog! Sem falar que ele provavelmente é muito, mas muito mais lido do que os meus artigos.
Abraços!
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Para quem sempre teve o sonho de ser um pesquisador, como buscar alternativas para o futuro da profissão no Brasil? Como não desanimar e buscar outras carreiras pela falta de investimento/opção/retorno financeiro e pessoal? Entendo que nunca foi uma carreira para se ganhar dinheiro, mas infelizmente os desdobramentos parecem indicar que não haverá tanto espaço para isto no Brasil. O amor pela ciência possivelmente pode não pagar as contas. Sei que é um tema extenso, porém gosto do blog e acompanho já faz um bom tempo. Vocês já me animaram bastante antes, e sou bem grato por isso. Continuem o bom trabalho!
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Olá Rafael,
Muito obrigado pela mensagem. Eu acredito que a tua pergunta reverbera cada vez mais pelos corredores das universidades (e eu também tenho me feito a mesma pergunta de tempos em tempos). Infelizmente, eu não tenho uma resposta curta, e muito menos uma resposta que eu considero boa para isso. Vou tentar meu melhor, mas se eu falhar miseravelmente eu já peço desculpas.
As coisas não estão fáceis – isso é fato – e não parecem que vão melhorar tão cedo. Porém, há alguns fatores que são interessantes de considerar. Primeiro, se está ruim agora, é porque uma época já foi melhor. Como essas variáveis tendem a ser cíclicas, se está ruim, a probabilidade de melhorar no futuro é alta. Se estamos embaixo, o caminho mais provável é para cima. Isso tá longe de ser um tipo de fala de “coach quântico” porque é um fenômeno estatístico chamado “regressão a média”. Segundo esse fenômeno, variáveis que flutuam tendem sempre a aproximar da média. Portanto, pontos altos levam a pontos baixos e vice-versa. O Marco, inclusive, escreveu algumas vezes sobre como fazer ciência no Brasil é como andar em uma montanha russa justamente por isso – é cheio de altos e baixos.
Segundo, querendo ou não, alguém sempre vai conseguir alcançar a linha de chegada independente das condições. Nesses momentos de escassez de recursos tudo fica muito mais difícil e competitivo, mas alguém sempre consegue. Aí é uma questão de avaliar duas coisas importantes: 1. o seu ikigai e 2. condição financeira. O ikigai é importante porque a carreira é difícil e nesses momentos fica mais difícil ainda. Então, é ele quem te dará forças e a motivação para continuar trilhando. A condição financeira precisa ser considerada porque, infelizmente, em um país tão desigual como o nosso, ela torna-se importante para saber o quanto você consegue aguentar o tranco.
Terceiro, considere sair do país para estudar. Eu sempre sugiro isso para quem está querendo iniciar o doutorado. Estudando fora do país, você expande seus horizontes como cientista, faz mais contatos internacionais e pode viver em um local mais estável e que dá mais valores para seus cientistas (Alemanha, estou olhando para você). Na época em que estamos, isso se torna cada vez mais crucial. O caminho para isso, porém, não é fácil de ser trilhado. Mesmo quando o Brasil financiava bolsas de doutorado fora não era fácil – agora o jogo ficou ainda mais difícil.
Quarto, tenha boas pessoas ao redor de você. Por mais que o mundo possa estar acabando, se você tiver pessoas te apoiando e te ajudando, tudo vai ficar mais fácil. De novo, isso não é fala de coach quântico. Somos animais sociais. Estar com pessoas que você gosta e se importa é, então, fundamental para seu bem-estar e ânimo. Por último, desligue um pouco das redes sociais & procure terapia. Ambos ajudam muito.
Espero que eu tenha ajudado! Abração,
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Oi Rafael, concordo com o Alê e gostaria de desenvolver um ponto que ele tocou. O fomento à ciência, assim como os incentivos para a carreira acadêmica, variam enormemente no Brasil entre as décadas, como escrevi em outro blog. Quando eu comecei, nos anos 90, a situação era igual ou pior do que a atual. Além disso, o treinamento para se tornar um cientista profissional é longo, levando no mínimo 25 anos (somando ensino infantil, fundamental, médio, graduação, mestrado e doutorado). Portanto, se você chegar à conclusão de que a ciência é o seu caminho, perseverança é fundamental. Na verdade, ela é o mais importante dos traços de personalidade necessários para vencer nessa carreira. O ponto é que poucos (uns 10% dos que entram na pós) conseguem trilhar essa jornada até o final e se estabelecer. A realidade é dura, pois o investimento pessoal é enorme e o retorno não é garantido, mas a gente só descobre tentando. É igual ao que acontece em outras carreiras de alto rendimento, muito competitivas, como atletismo olímpico, música de orquestra ou alto sacerdócio. Em suma, se você chegar à conclusão de que a ciência é mesmo o seu ikigai, lute pelo seu sonho.
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Rafael,
super pertinente sua pergunta.
A gente sabe que “o real não está valendo nada” rs.. e que “ganhar dinheiro” não combina muito com ser cientista. Mas dá pra ter uma vida confortável (em relação a dinheiro) vivendo de ciência sim. Vejamos os carros com os quais os professores vem trabalhar na universidade rs.. E também, ainda que seja penoso viver de pós-doc em pós-doc após ter finalizado o doutorado, uma bolsa de pós-doc não deixa ninguém na linha da miséria (a menos que você tenha filhos, aí fica apertado!). Não é uma vida de luxo, mas paga as contas a partir do momento em que se acha um emprego. O problema no Brasil no momento (um dos problemas) é a falta de emprego, que ficou cada vez mais “democrática”, tem analfabeto desempregado e tb muitos doutores desempregados. Com isso, temos que ser pé no chão e pensar na sobrevivência antes da ciência. Eu não tenho uma visão otimista para os milhares de doutores que estão saindo com diploma por ano no Brasil neste momento, mas eu também acredito que existem oportunidades fora do Brasil, para quem der a cara a tapa. Então sim, existe luz no fim do túnel para quem quer ser cientista 😀 mas, a curto prazo, não deposito muita fé na oferta de empregos no Brasil.
Boa sorte na sua jornada 😀
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Olá Rafael Silva,
compartilho com você o amor pela ciência e foi por isso que pensei em fazer concurso para técnico-administrativo de uma IES (Instituição de Ensino Superior), pois meu currículo não é competitivo o suficiente para tentar concursos para docente (e, na verdade, gosto mais é de investigação/pesquisa e extensão do que dar aulas).
Fiz um concurso para Assistente de Laboratório da Universidade Federal de Viçosa, onde trabalho há 6 anos e desenvolvo a pesquisa dos meus sonhos no tempo livre do expediente (e fora dele também, claro!). Se a pessoa não tem problemas com lavar vidrarias, limpar coisas, fazer diversas tarefas administrativas burocráticas etc, esta pode ser uma boa opção.
Abraço!
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