Aqui estamos de volta, respondendo as perguntas que sobraram da terceira live do blog!
Em maio fizemos um crossover entre as lives e os posts do tipo “Pergunte-nos o que quiser!”. Agora repetimos a dose.
Neste novo post, os convidados da nossa terceira live responderam as perguntas que faltaram. Além disso, vocês podem nos fazer novas perguntas.
Pergunte-nos o que quiser sobre a ciência e a carreira acadêmica!
Perguntas que sobraram da terceira live
André Felippe Freitas: queria que vocês falassem da nota da Ecological Society of America falando sobre luta cota desigualdade racial.
Marco: fiquei feliz pela ESA se pronunciar publicamente e espero que ela aja concretamente. Testemunhos nas redes sociais com a hashtag #BlackInTheIvory mostram que discurso institucional nem sempre se transforma em ação palpável. Além disso, as histórias de horror relatadas deixam claro que, na prática, as pessoas que reclamam publicamente de racismo, xenofobia ou machismo acabam sofrendo retaliação. Inclusive de instituições acadêmicas que alegam ser inclusivas.
Rodolfo Liporoni: vocês acham que a academia/universidade em particular é mais racista que outros meios da sociedade? Queria ouvir se tem algum tipo de reação preconceituosa mais comum que vivenciaram dentro desse meio
Sendy: a academia/universidade é mais um espaço social, e assim como os demais refletem a sociedade em si. O ponto é, a universidade deveria ser o centro, o marco, onde as mudanças se iniciam, onde novas tecnologias surgem, onde o conhecimento se renova, então diferentemente de outras instâncias tem (ou deveria ter) maior responsabilidade. Um outro ponto é que ainda a universidade pública é elitista, branca e machista, quanto maior seu privilégio maior a probabilidade de permanecer nela. Devemos pensar sobre como nosso privilégio pode auxiliar os desfavorecidos.
Doutorando numa Fria: como vocês enxergam os próximos passos desse movimento anti-racismo que ganhou força recentemente? Será que vai continuar crescendo ou daqui a pouco vai todo mundo esquecer?
Milene: eu acho que o assunto vai “esfriar”, mas não ser esquecido. Depende muito de nós mantermos o assunto em pauta em nossos meios, mantendo a chama acesa, mesmo que localmente.
Sendy: o movimento anti-racista e principalmente, o movimento negro existe e resiste há um bom tempo (no EUA ou mesmo aqui no Brasil). Infelizmente as “caras pessoas brancas” só enxergam quando convém ou quando ocorre um caso gritante. Até porque esses grandes atos não iriam “surgir do nada”, as redes e lutas já existem. Aqui em Maceió-AL já existem alguns grupos há um bom tempo, eu entrei tem uns 2 ou 3 anos e são lutas e ações diárias, semanais, mensais… Buscamos apoio público/privado, da sociedade, mas infelizmente é difícil conseguir, ainda assim a galera continua em luta. Creio que como Milene relatou, as coisas irão esfriar, mas sei que o movimento negro irá seguir como sempre fez.
Renata: concordo com a Milene e com a Sendy. Acredito, e quero muito acreditar que iniciativas pró-direitos humanos e pró-equidade como o movimento anti-racismo estão mais espalhadas e sendo mais comentadas hoje em dia. O desafio é gerar ações que de fato promovam mais diversidade e equidade para esta e as próximas gerações.
Rede PPBio Mata Atlântica: a UERJ foi a primeira universidade que instituiu as cotas. Um orgulho. Os estudantes cotistas são sim verdadeiros exemplos, por chegar no mesmo patamar com tantos obstáculos
Marco: parabéns pelo pioneirismo!
André Felippe Freitas: quem atua na Ecologia: quantos ecólogxs negrxs em atividade nas universidades nós temos?
Milene: eu sinceramente não sei, mas acredito que pouquíssimos. Basta pensar na representatividade de pessoas Negras em nossas turmas de graduação e pós, assim como em nossos docentes e participantes dos nossos congressos.
Marco: pouquíssimos, mesmo se considerarmos como negros todos aqueles que se autodeclaram como pretos ou pardos. Essas pessoas formam cerca de 60% da população, mas não devem chegar a 20% na academia e a proporção diminui com a progressão na carreira. Gostaria de ver estatísticas oficiais sobre isso. O CNPq tem esses dados no Lattes, poderia divulgá-los.
Renata: também não sei ao certo, mas essa matéria dá uma ideia boa da situação para as doutoras negras no Brasil.
Pâmela: pras gurias, que fazem divulgação científica: vocês recebem algum tipo de “hate” nas redes sociais? Adoro o conteúdo de ambas! 🙂
Milene: já surgiu uma ou outra manifestação hater, mas mais relacionada ao fato do meu posicionamento pró-ecologia do que por qualquer outra coisa – se a pessoa ainda tenta dialogar não considero hater, mas se chegar na agressividade, eu bloqueio. Acho que mais chato que os haters, são os caras dando em cima – acredito que homens fazendo divulgação científica não precisam se preocupar com esse tipo de coisa. Mas isso não tem a ver com pobreza, mas sim com o machismo estrutural da nossa sociedade.
Sendy: inicialmente eu encontrei resistência entre colegas de trabalho, a galera ficava apontando ou cobrando, como se fazer um artigo A1 fosse mais importante do que realizar divulgação científica, e mais bizarro, como se fossem atividades excludentes. Até hoje não é visto com bons olhos por alguns mas não me importo mais. E o que Milene citou é bem real, é revoltante, os caras não respeitam e são bem inconvenientes. Antigamente eu me sentia culpada (eu sei, absurdo!), hoje eu tiro print e bloqueio.
Ana Cristina crestani: na visão de vocês, como cientistas brancas e brancos podem contribuir, efetivamente, para quebrar o racismos estrutural na academia?
Sendy: creio que é essencial levar para a vida, e não apenas na academia. Você tem amigues negres? Você consome arte negra? Você escuta músicas, lê livros e etc de pessoas negras? Na sua região tem comércio gerido por pessoas negras e você compra lá? Acho que por aí seguem várias questões… Respeitar e escutar é muito importante, você até pode não concordar inicialmente, mas fica com aquilo na sua cabeça e tenta trabalhar e repensar, não é fácil pois nossa educação/sociedade/cultura ainda é racista, machista, lgbt-fóbica… Levamos algumas coisas como se fosse “comum, natural”, então reaprender é difícil mesmo. Mas, ficar em silêncio e ouvir é um começo, infelizmente vivemos em um período que você parece que TEM que ter uma opinião sobre tudo instantaneamente, e não precisa ser assim. Apoiem os movimentos negros da sua faculdade ou região, a galera sempre tá precisando de algo para se manter ativa e realizar as atividades.
Ana Cristina crestani: coloquem o contato das/os convidadas/os na descrição
Sendy Melissa: e-mail: sendymelissa@gmail.com, Instagram: @send.science
Milene Alves: e-mail: mileneaae@gmail.com, Instagram: @eco.et.al
O que se espera de um professor que irá ser recebido para um período sabático em um Laboratório? E do professor que irá acolhê-lo? É algo semelhante ao que você já escreveu sobre o Pós-Doc? Agradecido desde já!
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Oi, Patrick! De um professor se espera bem mais do que de um postdoc. Eu diria que se espera uma troca de experiências de igual para igual. É muito importante um professor visitante em sabático não se comportar como um colega júnior, submisso, mas mostrar iniciativa e maturidade. E se espera também um produto concreto resultando na visita, como um artigo, livro ou patente.
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Muito obrigado, Marco!
Informação como esta não se encontra em qualquer lugar.
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