Em breve, muitos colegas vão encarar o ensino remoto pela primeira vez. Aqui vão algumas dicas de quem lutou essa batalha no primeiro semestre.
Como já comentamos em outro post, por causa da nova pandemia tivemos que migrar para o ensino remoto emergencial do dia para a noite. Professores de todos os níveis estão lutando para se adaptar a esta fase de transição.
Por isso, precisamos trocar experiências e ajudar uns aos outros. Neste post, focarei na realidade do ensino superior. Compartilho as soluções que encontrei, a fim de facilitar a vida de quem nunca gravou uma videoaula.
Mas antes partamos de algumas premissas:
- Estas são dicas focadas na situação de emergência que estamos vivendo. A ideia não é fazer videoaulas profissionais, estilo Telecurso Segundo Grau. Mas faça o melhor que puder;
- Dou preferência a soluções simples e gratuitas para os problemas mais importantes e comuns. Logo, casos específicos talvez requeiram outras saídas;
- O foco aqui são as videoaulas gravadas, ou seja, atividades assíncronas. Contudo, muitas dessas técnicas podem ser aplicadas também a atividades síncronas, como videoaulas ao vivo;
- Tente se virar com os recursos que você tem em casa. Crise é hora de poupar dinheiro. Basta atentar aos detalhes da pré- e pós-produção;
- Eu não sou um profissional do design ou da comunicação. Logo, se os sintomas persistirem, o youtuber deverá ser consultado. Sugiro dar uma olhada nas técnicas usadas por canais como Nerdologia e Nostalgia.
Tendo isso tudo em mente, vejam as minhas dicas, organizadas de acordo com as perguntas mais frequentes que tenho recebido.
1. Qual formato de videoaula devo usar?
Depende do seu estilo como docente, do escopo da disciplina e do tamanho da turma. O bom é que opções não faltam.
Videoaulas podem ser gravadas de infinitas maneiras. O limite é a sua imaginação. Contudo, para facilitar a sua vida neste momento crítico, sugiro focar em três grandes tipos: (i) voz sobre slides, (ii) vídeo do professor e (iii) captura de tela.
Voz sobre slides significa gravar uma narração em cima da apresentação de slides que você preparou para uma aula expositiva. É um formato que atende a grande maioria dos casos. Não requer intimidade com a câmera, mas requer habilidade para preparar slides e narrá-los. Veja, por exemplo, esta videoaula que preparei para uma disciplina de comunicação oral:
Vídeo do professor significa você se filmar dando a aula. Pode ser com o cenário que você preferir, como o seu cantinho do home office. Você pode aparecer de corpo inteiro ou focar apenas no seu peito e cabeça. Você pode conversar com a câmera ou pode usar algum recurso didático, como uma lousa ou um flipchart. Esse formato exige algum grau de desinibição. Veja um excelente exemplo:
Captura de tela significa gravar a tela do seu computador, enquanto você mexe em um programa. Isso é formidável, por exemplo, no caso de uma videoaula sobre como fazer uma análise. Veja um exemplo:
Notou que também dá para fazer um crossover entre formatos? No vídeo anterior, o Alexandre aparece em uma janelinha, apesar de o foco ser a captura de tela. Veja outro exemplo, misturando voz sobre slides com vídeo do professor:
Eu mesmo tenho usado uma mistura de voz sobre slides e vídeo do professor. Só que prefiro outro estilo. Começo aparecendo para explicar o escopo da videoaula e depois sigo apenas com os slides. Veja um exemplo:
Você pode ir muito além disso, aparecendo de forma intercalada e misturando slides com animações. Se tiver tempo para investir na pós-produção, talvez valha a pena arriscar algo mais ousado. Veja por exemplo este sensacional videopôster:
De qualquer forma, é sempre bom incluir nem que seja um pouquinho do seu rosto em cada videoaula. Isso aumenta consideravelmente o engajamento da turma.
2. Que cuidados eu devo ter antes da gravação?
É muito importante prestar atenção à qualidade do áudio e da iluminação. Erros fáceis de evitar podem acabar arruinando o seu esforço. Por exemplo, uma iluminação mal planejada pode colocar o seu rosto na sombra, dando ao vídeo um ar meio dark.
Outro ponto crucial da pré-produção é a qualidade da câmera usada. A maioria das câmeras embutidas de computadores (webcams) é ruim. Os microfones embutidos também costumam ser muito ruins. Há raras exceções, como os equipamentos de alguns notebooks top, como os MacBooks de última geração.
Bom, o fato é que as câmeras e microfones dos smartphones costumam ser bem melhores. E olha que legal: dá para usar o seu smartphone como se ele fosse uma webcam. Não se esqueça de usar um tripé para apoiá-lo. Veja um exemplo de como fazer isso:
Cuidados básicos com a pré-produção fazem toda diferença do mundo e podem compensar o uso de equipamentos caseiros. O tutorial a seguir dá excelentes dicas para quem está ensinando em home office:
Se o dinheiro não for fazer falta, você pode melhorar muito a sua produção usando tripé, suporte para celular, microfone de lapela, iluminador e outros equipamentos simples. Dá para comprar um bom “kit youtuber” no Mercado Livre ou na Amazon por cerca de 200 reais. O investimento vale muito a pena.
3. Como eu posso fazer a gravação?
Para fazer a gravação de voz sobre slides, eu tenho usado o Apple Keynote. Mas dá para fazer também com o MS PowerPoint. Hoje, quase todos os editores de slides têm essa função embutida. Depois você pode exportar o arquivo como um vídeo do tipo MP4, MOV ou similar para fazer a pós-produção.
Se você quiser gravar voz sobre slides ou captura de tela incluindo a tal janela com um vídeo do professor, precisará de um programa especializado. Veja um exemplo de como fazer isso:
Se você quiser gravar um vídeo do professor solo, use a câmera do seu notebook ou celular. Pode usar também uma filmadora digital ou câmera fotográfica com função de vídeo. Mas não se esqueça de usar um tripé para estabilizar o vídeo. Depois vem a parte mais trabalhosa, que é descarregar o arquivo no computador e começar a pós-produção.
Para gravar videos de mim mesmo com a câmera do meu MacBook, tenho usado o Apple QuickTime. Ele funciona tanto em Mac quanto PC, é gratuito e intuitivo. Mas há várias alternativas hoje em dia. Veja um excelente tutorial:
4. Como eu posso editar os vídeos depois da gravação?
Chegou a fase mais trabalhosa: a pós-produção. Profissionais costumam gastar nela pelo menos o triplo do tempo investido na gravação. Mas você não precisa mergulhar tão fundo. Lembre-se de que estamos gravando videoaulas para uma situação emergencial, então foque no básico.
Mesmo assim, saiba que a renderização do vídeo pode demorar muito. Dependendo do poder do seu computador, estamos falando de minutos a horas. Faça testes e coloque esse tempo na conta do seu planejamento. A renderização é o último passo antes de o arquivo final ficar pronto para subir no YouTube.
Bom, para fazer a pós-produção, tenho usado o Apple iMovie, um programa simples e gratuito para Macs. No mundo dos PCs, sugiro o Windows MovieMaker. Ambos são bem intuitivos. Veja um excelente tutorial:
Veja também uma boa opção de editor de vídeo multiplataforma:
Nesses programas, além de fazer cortes, adições e emendas, você pode incluir trilha sonora, efeitos especiais, títulos, legendas, transições e imagens estáticas. Outra função sensacional são os filtros de audio, que ajudam a corrigir barulhos de fundo e zumbidos. E não se esqueça de aumentar o volume e equalizar o áudio.
Usando criativamente esses programas de pós-produção, você pode tornar as suas videoaulas muito mais envolventes. Por exemplo, criando vinhetas personalizadas. Ou usando sempre os mesmos pedacinhos de trilhas sonoras (riffs) em momentos-chave, por exemplo, para marcar o objetivo e o resumo da ópera.
5. Qual deve ser a duração de cada videoaula?
Quanto à filosofia norteadora das minhas videoaulas, segui as práticas dos MOOC: massive open online courses. Desde 2018 venho estudando a plataforma Coursera para converter o meu curso de redes para ela. Vale a pena dar uma olhada também no que rola na Udemy e na Alura.
Assim, durante a primeira fase desta emergência, segui a “regra de ouro MOOC” de não produzir videoaulas mais longas do que 15 min. Agora que passou o meu semestre de ensino na USP e posso voltar a preparar o meu curso com calma, estou gravando videoaulas de no máximo 5 min.
Acredite: mesmo quando o assunto de uma aula presencial é grande ou complexo, sempre dá para dividi-lo. Basta identificar os temas que o compõe e roteirizá-los.
Resumo da ópera:
- Escolha o formato de videoaula que você vai usar em cada caso, de acordo com o seu estilo pessoal e o escopo da aula;
- Tome cuidado com os detalhes de pré-produção, como iluminação e áudio;
- Se não for pesar demais no seu orçamento, considere comprar um kit youtuber;
- Escolha a combinação de programas mais adequada para a gravação dos vídeos;
- Escolha o programa mais adequado para fazer a pós-produção e reserve um bom tempo para ela;
- Reserve um bom tempo para a renderização (conversão e exportação final) da videoaula;
- Reserve um bom tempo para experimentar todas essas ferramentas e se familiarizar com elas;
- Não prepare videoaulas mais longas do que 15 min. Se o assunto for grande, divida-o em mais de uma videoaula;
- Não custa repetir: estamos vivendo uma situação de emergência. Logo, foque em fazer uma boa videoaula. Não pire em fazer a melhor videoaula da história da humanidade.
“Videoaula boa é videoaula entregue dentro do prazo”
Antiga sabedoria jedi
5 respostas para “Como preparar videoaulas”