Pandemia do novo coronavírus, Parte 10: pandemias do passado

A Covid-19 não é a primeira pandemia pela qual a humanidade passa e nem será a última. A história pode nos ensinar muito, então não precisamos repetir erros.

A esta altura da atual pandemia, você já deve ter ouvido falar sobre a Gripe Espanhola de 1918, que devastou o mundo junto com a Primeira Guerra Mundial. Mas ela não foi a única pandemia pela qual passamos. E, infelizmente, não será a última.

Lembra da gripe aviária de 2005? Pois é, trata-se de um outro exemplo de pandemia recente, causada pelo gênero de vírus Influenza (família Orthomyxoviridae). Se voltarmos o foco para a família dos coronavírus (Coronaviridae), logo lembramos que passamos por grandes apertos em 2003, com a SARS, e em 2008, com a MERS.

Considerando ainda outros grupos de vírus, bactérias e protozoários, não podemos nos esquecer das pandemias de sarampo, meningite e poliomielite na segunda metade do século XX. Isso, sem contar pandemias históricas, como a peste bubônica, a varíola e a malária, gravadas na memória de diversas civilizações, que levaram séculos ou milênios, respectivamente, para serem controladas ou até mesmo erradicadas.

Fora essas pandemias do passado, você já se deu conta de que a AIDS, causada pelo vírus HIV, também é uma pandemia e ainda está em curso? Essa, pelo menos, tem uma história inspiradora aqui no Brasil, que desenvolve um programa de combate exemplar, copiado no mundo todo.

Pois é, com um histórico tão longo de combate a pandemias, a ciência aprendeu muito e desenvolveu várias tecnologias e estratégias de prevenção, tratamento e controle. Infelizmente, a sociedade como um todo não aprendeu tanto, e hoje vemos sendo repetidos os mesmos erros de outros séculos.

Se você quiser aprender mais sobre erros e acertos no modo como lidamos com as pandemias de malária, febre amarela e varíola, na virada entre os séculos XIX e XX, leia o sensacional livro “Cidade Febril“. Ele foi escrito pelo historiador Sidney Chalhoub, professor da Unicamp, e publicado originalmente em 1996.

No livro, o Prof. Chalhoub aborda como os governos imperial e da primeira república do Brasil, além da sociedade em geral, lidaram com essas pandemias. Ele descreve a vida insalubre nos cortiços do Rio de Janeiro e o preconceito e a opressão que a população deles sofria. E também explica como a Revolta da Vacina eclodiu a partir de confrontos envolvendo higienismo, racismo e desenvolvimentismo.

Outro livro maravilhoso foi publicado em 2020, já no contexto da atual pandemia, pelas historiadoras Lilia Schwarcz, professora da USP, e Heloisa Starling, professora da UFMG: “A Bailarina da Morte“. Ele foca especificamente na pandemia de Gripe Espanhola, que deixou o mundo de joelhos de 1918 a 1920. Seu impacto no Brasil foi enorme e algumas famílias ainda guardam essa memória. É um relato impressionante e cheio de paralelos assustadores com a realidade que vivemos hoje.

A parte mais assustadora é ver que, apesar do quanto aprendemos com pandemias anteriores, ainda temos uma enorme dificuldade em desconfiar de soluções milagrosas e colocar em prática soluções baseadas em evidências. Outro excelente ponto para reflexão, levantado pelo livro, é o processo de luto individual e coletivo, necessário para superar de forma saudável uma crise global. Infelizmente, esse processo costuma ser sequestrado e sabotado por políticos oportunistas e seus apoiadores em todas as épocas.

Espero que vocês curtam esses livros. Apesar de tratarem de temas mais do que pesados, passam informações importantíssimas de forma clara, leve e instigante.

“Um povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la”

Edmund Burke

Pena que não lidamos com a Covid-19 da mesma forma que lidamos com a AIDS:

(Fonte da imagem de destaque)

3 respostas para “Pandemia do novo coronavírus, Parte 10: pandemias do passado”

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