Será que uma inteligência artificial poderia nos ajudar na escrita científica?

Aviso: Este post contou com a ajuda do ChatGPT. Partes do texto foram adaptadas a partir de dicas dadas por ele mesmo em pessoa (ou máquina, rs), depois expandidas com base na minha experiência e nas fontes citadas nos links.


O mundo mudou. Hoje, pela primeira vez, escrevo neste blog com a ajuda ativa de uma inteligência artificial (IA) baseada em um modelo de linguagem de última geração: o ChatGPT (Chat Generative Pre-trained Transformer). Trata-se de um chatbot, ou seja, uma inteligência artificial que pode conversar contigo como se fosse uma pessoa!

Esse chatbot pode te ajudar a responder perguntas e executar tarefas, incluindo lições de casa, DRs amorosas, scripts em R ou até mesmo artigos científicos. Sério, ele entende não apenas linguagens naturais, como inglês e português, mas também linguagens de programação, como R e Python! Para completar, ainda é capaz de escrever de forma criativa, cruzando temas e até mesmo usando humor! 😱

A versão online desse novo chatbot foi lançada no final de 2022 e já virou tema de acaloradas conversas de corredor, boteco e bot (rs), fora ter se tornado alvo de críticas. Neste post, vou comentar algumas formas como ele poderia te ajudar na escrita científica. A primeira frase de cada ponto da lista a seguir foi gerada pela própria ferramenta em questão. Eu as editei e adicionei comentários em seguida. Isso por si só já é um tipo de ajuda.

  1. Geração de ideias: um chatbot pode servir como fonte de inspiração, fornecendo sugestões e informações úteis sobre diversos tópicos. Isso pode ser excelente na fase de brainstorming, por exemplo ao preparar aulas, palestras, projetos ou sínteses sobre um tópico. É como se o chatbot fizesse uma seleção do que está espalhado na web e produzisse um resumo da ópera. E, não, isso não pode mais ser considerado preguiça em pleno século XXI, pois nenhuma pessoa é capaz de varrer todo o conteúdo atual da web à mão, sem ajuda de máquinas. Mesmo um conteúdo nichado, como a literatura científica, hoje também se tornou muito maior do que a capacidade humana de encontrar, organizar e processar informações. Desapegue-se da ilusão de controle. Você também pode usar um chatbot para avaliar as ideias que teve, checando se a sua linha de raciocínio está mesmo clara.
  2. Aprendizado: um chatbot pode te ajudar a expandir o seu conhecimento sobre áreas específicas e a aprimorar as suas habilidades de escrita. O conteúdo ‘mastigado’ gerado por ele também pode te ajudar a desenvolver o seu pensamento crítico e a aprender coisas novas. Aprender a interagir com um chatbot pode também te ajudar a melhorá-lo e até a pegar a manha de validar seu conteúdo, já que esse tipo de ferramenta ainda está longe de dar respostas perfeitas, mas tem uma performance muito boa, que varia de tópico para tópico. Veja, por exemplo, como ele se saiu em provas do curso de direito nos EUA. Quando em dúvida sobre alguma informação dada, você pode pedir referências e checá-las diretamente na fonte.
  3. Economia de tempo: um chatbot pode economizar tempo ao fornecer sugestões de palavras, frases e estruturas de frases para tornar a sua escrita mais eficiente. Sério, gente. Vários amigos meus chegam a levar um tempo absurdo para compor um simples e-mail, ainda mais se não for em suas línguas nativas. Um chatbot pode te ajudar a escolher o assunto, o tom e o tamanho, além de gerar um rascunho em segundos. Depois disso, é só revisar e enviar o e-mail sem gastar um tempão o compondo. A ideia não é que o chatbot pense por você, mas que ele trabalhe para você em questões que são mais braçais do que intelectuais.
  4. Melhor compreensão: um chatbot pode te ajudar a esclarecer conceitos ou ideias que talvez não estejam claros na sua mente. Está com dúvidas sobre algum conceito cabuloso, tipo derivada ou integral? Um chatbot pode te ajudar a entender, dando uma explicação diferente de todas as outras que você viu antes. Você inclusive pode fazer um ‘bate-bola’ com ele, desenvolvendo sua discussão como se estivesse tendo um papo-cabeça com um colega. Isso pode te ajudar a discutir os seus resultados, ter ideias para novas perguntas e formular novas hipóteses.
  5. Melhoria da gramática: um chatbot pode te ajudar a melhorar a gramática do seu texto, ao fornecer sugestões sobre escolha de palavras, pontuação e sintaxe. Eu não substituiria o Grammarly pelo ChatGPT neste ponto, mas considere explorar um chatbot para checar regras gramaticais ou explicar como certas expressões funcionam, incluindo regionalismos.
  6. Escrita mais persuasiva: um chatbot pode te ajudar a tornar a sua escrita mais persuasiva, fornecendo sugestões de como construir argumentos mais convincentes. Como mencionei antes, você pode pedir para ele ajustar o tom de acordo com o seu objetivo. Escreveu o abstract de um grant importante para o seu grupo de pesquisa? Que tal checar se o tom poderia ser mais persuasivo? Ou que tal checar formas alternativas de dizer a mesma coisa? Esse é um exercício super legal para melhorar a sua escrita!
  7. Escrita mais criativa: um chatbot pode te ajudar a desenvolver a sua habilidade de escrita criativa, fornecendo sugestões de palavras, frases e estruturas que possam ser utilizadas de diferentes formas. Ele pode sugerir sinônimos rapidamente e você não precisa mais ficar pulando de site em site para substituir termos.
  8. Escrita mais clara: um chatbot pode te ajudar a melhorar a clareza da sua escrita ao fornecer sugestões sobre a organização das ideias e a estrutura das frases. Aqui eu vi muita vantagem. Quem nunca ficou empacado, sem conseguir melhorar o fluxo de alguma parte de um manuscrito? Um chatbot pode te ajudar reorganizando seus parágrafos, sem modificar o conteúdo deles. A rapidez com a qual um chatbot re-estrutura textos é impressionante!
  9. Melhor adequação ao público-alvo: um chatbot pode te ajudar a escrever de maneira mais eficiente para um determinado público-alvo, sugerindo palavras e frases mais bem sintonizadas com ele. Você pode inclusive perguntar ao chatbot se o uso de tal palavra é adequado para seu público-alvo, ou se o uso de certas palavras é limitado a algum contexto específico. Imagine que exercício legal gerar textos para públicos-alvo diferentes utilizando um chatbot para impulsionar essa adaptação de escrita?
  10. Disponibilidade 24/7: um chatbot está disponível 24 horas por dia, 7 dias por semana, permitindo que você tenha acesso às suas sugestões de escrita a qualquer momento. Mas lembre-se que, quando você usa muito um determinado chatbot ou passa por problemas de conexão, a interação pode ficar mais lenta. Isso acontece principalmente se você pede tarefas extensas ou pergunta sobre coisas cabulosas ou estórias complexas. Mas, no geral, um chatbot é bem rápido. Quando eu pedi para o ChatGPT gerar esta lista de vantagens, o resultado veio em segundos. Em outro momento, pedi um ensaio sobre a conexão entre saúde humana e meio ambiente que veio em menos de um minuto.
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“Ok, Rê, mas nem tudo são flores, né? Por que os professores do meu departamento estão tão assustados com o ChatGPT?”

Bem, para começo de conversa, os leitores mais experientes vão se recordar de que, uns dez anos atrás, professores de escolas e universidades estavam assustados ou mesmo furiosos com smartphones e tablets em sala de aula. Hoje, esses gadgets se tornaram verdadeiros cyber-órgãos e já foram integrados ao processo ensino-aprendizagem pelos melhores professores, cursos e instituições. Tem mudanças que chegam com a força de um tsunami, então a coisa mais sábia a fazer é aceitá-las, estudá-las e se adaptar a elas.

Voltando ao ponto, sendo eu uma humana justa, dei chance ao próprio acusado de se defender. “Quais seriam as desvantagens de usar o ChatGTP na escrita científica?” Mesmo protocolo da lista anterior: a primeira frase de cada ponto foi gerada pelo próprio chatbot. Eu as editei e adicionei comentários em seguida:

  1. Dependência excessiva: se você confiar demais em um chatbot, pode perder a habilidade de pensar por conta própria e desenvolver a sua própria voz na escrita. Esse ponto é importantíssimo. Não use o ChatGPT ao léu, pois você tem um lindo cérebro que nunca pára de se desenvolver. Escolha bem as suas lutas e reflita se o chatbot está ajudando no seu aprendizado ou tomando o seu lugar nele. Nenhuma ferramenta é intrinsecamente boa ou ruim: depende apenas de como você a usa.
  2. Limitações de criatividade: um chatbot é uma ferramenta baseada em aprendizado de máquina, então não é tão criativa quanto um bom escritor humano (apesar de ter potencial para ser melhor do que muitos escritores medíocres). Isso pode então limitar a originalidade e a criatividade da sua escrita, se você usar um chatbot de forma preguiçosa ou desonesta. A sua criatividade pode ser estimulada de várias maneiras e muitas delas passam longe dos diferentes black mirrors que dominam a vida contemporânea. Quando quiser dar um boost na sua criatividade, vá caminhar, lutar, pedalar, pintar um quadro, preparar uma comida gostosa ou meditar em um lugar silencioso. Nunca, de maneira alguma, passe o dia todo na frente do computador interagindo com máquinas. Olhar pra telas incessantemente é péssimo para a saúde dos olhos, da mente e da sociedade.
  3. Falta de contexto: um chatbot pode gerar sugestões baseadas em palavras-chave ou frases específicas, mas talvez não entenda corretamente o contexto da sua escrita. Isso pode levar a sugestões inadequadas ou irrelevantes. O que quer que seja que você peça a um chatbot, revise, revise e, depois, revise mais uma vez. Não acredite cegamente no conteúdo gerado. E, principalmente, se você estiver usando um chatbot para estudar, peça a opinião de um colega ou mentor sobre a resposta, caso você não esteja certo de nada. Os bons professores sempre foram, ainda são e sempre serão os melhores curadores do conhecimento, mesmo que não sejam mais as únicas fontes de informação!
  4. Possibilidade de erros: um chatbot ainda não é perfeito e pode cometer erros, sugerindo palavras ou frases que não fazem sentido na sua escrita. Como já comentado anteriormente, um chatbot pode dar respostas medíocres e até inventar respostas nonsense em alguns casos! Lembre-se, ele é um programa feito para responder coisas de forma plausível, utilizando a melhor linguagem possível, mas isso não quer dizer que a resposta esteja sempre certa.
  5. Falta de personalização: um chatbot é uma ferramenta genérica e não personalizada, o que significa que as sugestões de escrita podem não se adequar ao seu estilo pessoal de escrita. Quando a sua sessão com um chatbot acaba, não há memória de que ela se passou especificamente entre você e aquela máquina. A experiência entra para a memória geral do chatbot, mas não é arquivada em conexão direta com você. Para confirmar, eu acabei de perguntar ao ChatGPT se ele se lembrava de mim. Ele respondeu: ‘Como um modelo de linguagem, não tenho capacidade de memória no sentido humano, então não posso lembrar de indivíduos específicos. No entanto, estou aqui para ajudá-lo sempre que você precisar, independentemente de ter tido uma interação anterior com você ou não. Em que posso ajudá-lo hoje?’.
  6. Custo: Embora existam muitas ferramentas de chatbot gratuitas por aí, algumas podem ser pagas. Isso pode ser uma desvantagem se você não tiver uma alínea orçamentária prevista para esse tipo de serviço de terceiros. Tanto o ChatGPT quanto outras ferramentas de escrita, como o Grammarly, têm versões free e premium. Dependendo do projeto do qual você participa, ou da sua capacidade de investir na sua formação, você pode alocar um valor para elas. Sempre teste a versão gratuita e converse com colegas sobre a utilidade de cada programa antes de pagar por ele. Confesso que o ChatGPT já parece útil o suficiente para mim na versão free, pelo menos por enquanto. Já no caso do Grammarly, eu assinei e nunca me arrependi, pois aprendi muito com ele.
  7. Risco de plágio: Se você usar um chatbot para gerar conteúdo, pode haver um risco de plágio “culposo” (sem dolo ou intenção), se você não revisar e editar cuidadosamente o conteúdo gerado. Isso pode te colocar em uma baita cilada. Por conta disso, talvez começar usando um chatbot para verificação de conteúdo seja melhor do que pedir para ele escrever coisas para você, especialmente se a intenção final for submeter um artigo a uma revista ou entregar uma prova discursiva a um professor. Nessa hora, é importante conferir este post sobre plágio científico e como evitá-lo. O risco de plágio não é o único aspecto polêmico quando se trata de usar uma inteligência artificial. A questão da autoria de artigos tem sido amplamente discutida por autores, revisores e editores, fora que chatbots são novidade nesse campo, então ainda não há consenso sobre como lidar com o uso deles. Mas já há algumas publicações listando o ChatGPT entre os autores, incluindo casos em que se admitiu que permitir que isso acontecesse foi erro da revista. Periódicos de destaque, como a Nature, já se posicionaram contra a inclusão de chatbots entre os autores e exigem que os autores declarem o uso de ferramentas desse tipo nos métodos ou agradecimentos. Como esse lance de chatbot ainda é muito novo, creio que muita água vai rolar em relação a questões éticas e de métodos de escrita. Fiquem antenados, pois já tem até acadêmicos oferecendo curso de boas práticas de escrita usando o ChatGPT!

Mensagens finais

Ficou com vontade de testar o ChatGPT? Clique aqui e aceite o chamado para a aventura! Depois conte pra gente como foi. A mensagem mais importante deste post é: aprecie o ChatGPT e outras IAs com moderação! Lembre-se de que para melhorar na escrita científica, vários posts aqui no blog podem te ajudar com dicas e sugestões de referências clássicas (veja o material adicional a seguir). Leia também os livros do blog. Para aprender a escrever bem, você precisa ler muito, escrever muito e submeter os seus textos regularmente à crítica, além de experimentar as várias ferramentas clássicas e modernas que estão por aí.

Por fim, vale a pena reforçar a mensagem: o ChatGPT, o Grammarly e outras ferramentas de escrita podem te ajudar muito a escrever textos melhores, mas não devem substituir um bom treinamento dado por professores, e muito menos a sua criatividade e iniciativa. Teste-as, estude suas sugestões com calma e use-as com sabedoria.

Sucesso na sua jornada e até o próximo post!

Material adicional

A transcrição completa da minha sessão com o ChatGPT pode ser lida aqui.

Assista a um desafio ao ChatGPT!

Ouça um episódio do Nerdcast sobre o ChatGPT e outras IAs!

Do que exatamente o ChatGPT é capaz?

Outro podcast bem aprofundado sobre o ChatGPT e outras IAs!

Reportagem da BBC

Evento organizado pela USP

(Fonte da Imagem destacada)

Evento organizado pela FAPESP e a ALESP

2 respostas para “Será que uma inteligência artificial poderia nos ajudar na escrita científica?”

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