Resumo de congresso não é publicação!

Atendendo a um pedido do Pavel Dodonov, hoje resolvi escrever sobre uma confusão que vejo muita gente fazendo, tanto alunos quanto professores. Vou começar deixando essa questão bem clara: resumo de congresso não é publicação! Pronto, falei.


Eu já tinha abordado esse tema en passent em outro post e tinha falado sobre congressos aqui, mas agora vou aprofundar a mensagem. Vamos começar pelo top 3 no ranking dos equívocos relacionados:

  1. Mas, Marco, os resumos de congresso constam lá na seção “Produção bibliográfica”, subseção “Resumos publicados em anais de congressos”, do Currículo Lattes…
  2. Mas, Marco, um professor lá da minha universidade, que é reconhecido na instituição como uma grande autoridade em X, sempre diz que não perde tempo escrevendo artigos, que prefere se concentrar em dar aulas, porque afinal de contas o cargo dele é de professor, não de pesquisador…
  3. Mas, Marco, um outro professor lá da minha universidade, que também é reconhecido na instituição como uma grande autoridade em Y, sempre diz que publicar artigos é bobagem. Importante mesmo é apresentar trabalhos em congressos, pensando nos alunos, coitados, que não sabem ler em inglês e não entendem artigos técnicos, que são complicados e herméticos…

Com relação ao equívoco 1, não leve o Lattes e a organização dele tão a sério. O Lattes tem um lado ótimo, que é escancarar na internet os currículos dos cientistas brasileiros. Isso tornou muito mais fácil separar o joio do trigo e desmascarar os “especialistas de garganta” (não estou falando dos otorrinolaringologistas, rs).

Contudo, o Lattes tem o defeito de ter um formato extremamente burocrático, insano de tão detalhado, confuso muitas vezes. Além disso, o Lattes vem sofrendo um grave processo de “orkutização” (do inglês, orkutikalization), com as pessoas preenchendo os próprios CVs e consultando os CVs alheios obsessivamente. Na verdade, as pessoas nem deveriam se preocupar em listar resumos de congresso em um CV.

Agora partindo para o equívoco 2, quem apenas dá aula sobre um assunto e fala sobre ele em “palestras para alunos” não é um especialista. Pode ser até um bom professor ou divulgador de ciência, mas não é um cientista no sentido estrito, que produz conhecimento original sobre o tema. Antigamente, quando o CV era uma coisa privada, inacessível, muitos charlatães criavam fama se autointitulando especialistas.

Porém, graças ao Lattes e às redes sociais acadêmicas como ResearchGate e Academia, a produção de todo mundo passou a ficar exposta para quem quiser ver. Cientista é quem produz conhecimento original, não quem transmite conhecimento estabelecido. Esse também é, contudo, um papel também fundamental, mas que cabe aos professores e divulgadores. O conhecimento original deve ser apresentado formalmente à comunidade científica na forma de artigos publicados em revistas técnicas especializadas (journals), ou na forma de livros e patentes. Ponto.

Isso sem contar que, no contrato de um professor universitário, principalmente nas federais, consta que nossas atribuições envolvem pesquisa, ensino, orientação, extensão e gestão. Até conseguimos nos especializar em apenas uma ou duas dessas atividades ao longo da carreira, mas, na prática, somos obrigados a fazer pelo menos um pouco das cinco. Quem não publica artigos em journals não está cumprindo a função de pesquisa.

Por fim, o equívoco 3 é típico de pessoas frustradas, incapazes de gerar conhecimento novo ou de publicá-lo em boas revistas científicas. Essas pessoas acabam se tornando ressentidas e desdenham as publicações alheias. Já ouviu falar na fábula de Esopo “A Raposa e as Uvas“? Um professor universitário tem, sim, que dar aulas e também fazer pesquisa, além de um milhão de outras coisas. Alguns se escondem atrás dessa desculpa covarde do “penso no sofrimento dos alunos”.

Oras bolas, tratar alunos como intelectualmente incapazes é a pior forma de desrespeitá-los. É difícil para os neófitos ler artigos em inglês? Sim, para a maioria é. Primeiro porque, no Brasil, poucos alunos, mesmo os das famílias mais ricas, chegam à universidade sabendo ler bem em inglês (hoje em dia muitos não sabem  ler direito nem em português…). Segundo, porque mesmo que os artigos fossem todos escritos em português, ainda assim eles seriam difíceis de ser entendidos por leigos ou alunos iniciantes. Isso porque pessoas leigas não têm o conhecimento de base necessário para compreender os assuntos mais sofisticados ou especializados tratados nesses textos.

É claro que alguns artigos são mais herméticos do que o necessário, é claro que há cientistas que se escondem atrás do jargão. Contudo, mesmo que o autor escreva tão bem quanto um Machado de Assis, sempre é necessário ter uma base no tema para entender uma novidade que acaba de ser descoberta. Por isso, o esforço para entender artigos técnicos e para aproveitar bem as novidades apresentadas em congressos deve vir do próprio aluno. Isso requer estudo e trabalho; não há almoço grátis. O esforço e a prática é que constroem um bom profissional. Mastigar o conhecimento para os alunos e criar congressos “student-friendly” é chamar os alunos de incapazes e arruinar a formação deles.

O fato é que a publicação científica de verdade, ou seja, a apresentação formal de um conhecimento científico novo à comunidade, deve ser feita principalmente na forma de artigos em journals. Às vezes, conhecimento original também é apresentado na forma de livros técnicos. Mas isso, nas ciências naturais, costuma ser mais comum no caso de novas teorias. Livros técnicos, autorais, misturam conhecimento estabelecido com conhecimento novo, usando o primeiro como base para o segundo. Livros-texto são ainda outra categoria, servindo para fins didáticos e não de pesquisa.

Vale lembrar também que os costumes relacionados a publicações e congressos variam entre as áreas da ciência. Por exemplo, na matemática, alguns congressos aceitam trabalho completos que são publicados nos respectivos livros de anais e valem tanto quanto artigos em revistas. Contudo, via de regra, nas ciências naturais os resumos de congresso são como trailers de filmes.

“Ficou doido, Marco?”

Fiquei não, bróder! Um resumo de congresso é uma forma de propaganda de um estudo científico, que já foi ou será publicado em breve na forma de um artigo técnico.

“Mas, Marco, então posso apresentar em um congresso os resultados de um estudo que já foi publicado?”

Sim, claro! De preferência, só apresente em congressos trabalhos que tenham sido publicados há pouco tempo, que estejam no prelo em alguma revista ou que estejam pelo menos submetidos. Apresentar resultados preliminares demonstra falta de profissionalismo. Apresentar estudos completos, porém não publicados, te expõe ao risco de alguém que trabalha com o mesmo tema roubar as suas idéias e publicá-las antes de você.

Sim, isso acontece, como comentei em outro post. O pior é que isso não é crime, apesar de ficar numa zona cinza da ética. Uma idéia só te pertence, depois que você a publicar na forma de um artigo em um journal. Senão, seria muito fácil sair por aí se dizendo pioneiro em tudo, mas nunca conseguindo concluir um artigo bom de fato (já viu gente assim por aí?).

Um bom resumo serve para deixar as pessoas curiosas sobre o seu trabalho, com vontade de que o seu artigo saia logo para elas poderem ler a descoberta na íntegra. Além disso, com a profusão de revistas científicas que há hoje em dia e a quantidade colossal de artigos publicados todos os meses, é preciso chamar a atenção para os seus trabalhos através de propaganda em eventos e na internet, feita da forma correta (veja aqui sugestões de como fazer isso). Isso fomenta o seu networking e a sua inserção na comunidade científica.

Para finalizar, resumos de congresso e artigos se retroalimentam e ambos são importantes para a sua carreira, mas é importante ter em mente que um resumo não substitui um artigo. Nem mesmo se o resumo for escrito no pitoresco formato de “resumo expandido”, uma aberração que já deveria ter sido extinta há décadas. Isso porque se trata de um formato prolixo demais para ser chamado de resumo e incompleto demais para ser chamado de artigo. Frequente congressos, divulgue os seus trabalhos de forma estratégica na internet e não deixe de escrever um novo artigo para cada descoberta científica que você fizer.

É isso.

41 respostas para “Resumo de congresso não é publicação!”

  1. Olá! muito esclarecedor seu texto. Mesmo assim ainda tenho uma dúvida.
    No caso de já ter publicado um resumo expandido em um congresso ou simpósio que traz parte de uma dissertação e apresenta resultados parciais, ainda assim posso submeter um artigo com mesmo assunto e texto bem parecido para uma revista? Isso seria auto-plágio?

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    1. Oi Marina, obrigado. Sim, se você produziu apenas um resumo comum ou expandido, isso não é considerado publicação na maioria das áreas. De qualquer forma, consulte o seu orientador, pois vários costumes diferem entre áreas. Mas atente para um detalhe: o texto tem, sim, que ser diferente. O artigo publicado não pode reaproveitar o texto do resumo expandido. Não pode haver, por exemplo, parágrafos inteiros iguais. Na verdade, é normal eles serem diferentes mesmo, até porque a redação de um resumo segue outro estilo em relação a de um artigo, já que eles servem a finalidades diferentes.

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  2. Em sua opinião, Marco, é não profissional um aluno de IC “publicar” em congressos/simpósios/? Ou é diferente por ele demandar mais experiência?

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      1. Olá Marco, em primeiro lugar gostaria de lhe agradecer por nos ajudar com essas informações que às vezes temos até vergonha de perguntar. Em segundo, eu gostaria de saber se podemos submeter o mesmo resumo em eventos diferentes, já que não são publicação, tipo modificando o título e tal. Muito obrigada.

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        1. Oi Paula, de nada! Sim, no geral, você pode submeter um mesmo resumo a dois eventos diferentes, justamente porque resumo/pôster/palestra não são publicação, mas propaganda. Na verdade, é ótimo você conseguir divulgar um mesmo trabalho para dois ou mais públicos. Mas, de qualquer forma, pergunte aos seus colegas quais são os costumes na sua área, pois até mesmo essas coisas variam entre áreas.

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  3. Oi Marco, gostaria que me esclarecesse umas dúvidas:

    Sou da área de Ecologia e vou participar de um Seminário, nesse seminário eles pedem resumo expandido. Estou com um artigo do TCC para ser publicado, esse artigo aborda 3 assuntos diferentes em um só e a banca sugeriu de dividi-lo ou publicar em uma revista que aborde todos os temas. Eu gostaria de saber se posso fazer um artigo novo com um desses assuntos separado para publicar no seminário e depois publicar o artigo do TCC completo em uma revista. Esse seminário fala que os trabalhos não podem ser nem já terem sido publicados em nenhuma revista ou congresso e seminário.

    Obrigada…

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    1. Oi Jeanne, esse não parece um caso usual. Geralmente os eventos em Ecologia não fazem restrição quanto aos trabalhos apresentados terem ou não sido publicados. De qualquer forma, se você pretende publicar esse trabalho depois do tal seminário, parece que isso não será um problema.

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  4. Oi Marco, parabéns pelo post. Me esclareceu bastante coisa. Todavia ainda sobraram algumas duvidas (das quais sinto fico até um pouco envergonhado de fazê-las, pois para muito de vocês pode ser obvio demais). Enfim, vamos lá:
    1- Qual o nível de “descoberta científica” eu tenho que ter para conseguir publicar um artigo em um journal? Vejo até teses de mestrado sendo defendidas sem necessariamente ser uma “descoberta”. As vezes não passa de um estudo de caso ou comparativo entre estudos de alguém e outrem.
    2- Este resumo, assunto do post, é muito diferente do “resumo [abstract]” que iniciam todo e qualquer artigo? Existe um padrão ou depende de onde se quer publicar? Ou ele seria algo como o “short paper”?
    3- Publiquei um resumo. Continuei meus experimentos e no final…. bem, no final não cheguei onde queria. Há problema em ficar “só” no resumo? Tenho a sensação de que vai ser um pedaço de pesquisa abandonado no espaço…
    4 [e ultima]- Publiquei um artigo, TCC etc. Posso fazer um resumo de algo já publicado por mim (só por mim?)? Jura? Não seria auto-plágio, mesmo não sendo ipsis litteris?

    Obrigado.

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    1. Oi Marcos, obrigado. Bom, respondendo por partes:

      1. O nível da descoberta, para ela ser considerada interessante o suficiente para publicação, depende do journal. Em geral, quanto melhor a revista, mais exigente ela é. Por exemplo, enquanto revistas menores e mais desconhecidas aceitam até mesmo um trabalho que é quase repetição de outro, mas trocando a espécie ou o local, revistas mais conceituadas só aceitam artigos com testes de hipóteses novas e ainda não-investigadas, ou com hipóteses e teorias novas.

      2. O resumo que você escreve para um congresso segue a mesma lógica de um resumo escrito para uma revista. Ambos são apenas propagandas.

      3. Se você acha que o seu experimento não deu certo, não publique nem o resumo. Note que dar errado é bem diferente de dar resultado negativo. Se a sua lógica e método estavam corretos, mas o resultado saiu diferente do esperado de acordo com uma hipótese ou teoria vigente, o estudo merece ser publicado na íntegra.

      4. Se você fizer um resumo para um congresso de um artigo já publicado isso não é auto-plágio. Auto-plágio seria publicar novamente o mesmo artigo em outra revista, ou aproveitar partes integrais do texto em outro artigo.

      Um abraço!

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  5. Olá, estou cursando a graduação de medicina e preciso fazer um resumo para um congresso, mas estou em dúvida, pois no próprio artigo já vem o resumo ou abstract, então gostaria de saber como eu faria este resumo sem plagiar o trabalho de outros.Obrigado

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  6. Oi Marco

    Estou produzindo um artigo e seu resumo ja foi aceito para a apresentação num congresso. Surgiu outro congresso e eu queria mandar novamente o resumo com modificações (o mesmo trabalho com outro enfoque – antes alunos, agora professores) isso é possível?

    Obrigada

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    1. Monize, esses costumes dependem da área. Na Biologia, de um modo geral, não tem problema você apresentar um mesmo trabalho em mais de um congresso. Você só não pode publicar um mesmo artigo em mais de uma revista. Isso porque o registro oficial das descobertas científicas é feito no artigos, sendo os resumos, pôsteres e palestras em congressos apenas uma forma de propaganda desses trabalhos oficiais.

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      1. Obrigada pelo esclarecimento Marco, e parabéns pelo trabalho, mesmo não sendo da minha área traz informações preciosas, indiquei para vários colegas.
        Att. Monize

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  7. Olá Marcos,
    A minha dúvida é sobre a publicação de trabalhos completos em anais conta como publicação? Pois se não servir fica sem sentido a publicação correto?

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    1. Rafael, depende da área. Em algumas áreas das Exatas, conta sim e dá até prestígio, dependendo da importância evento. Nas Biológicas de um modo geral, não conta.

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  8. Olá Marcos,
    Parabéns pelo post, bastante esclarecedor. Porém, continuo com uma dúvida e por isso gostaria de saber se é viável publicar um resumo expandido de um artigo completo já publicado em anais de congressos em outro congresso, este que é de menor relevância. Ressaltando que para isso, devo fazer as devidas citações e uso de nova escrita para a elaboração do mesmo. Agradeço desde já!

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  9. No caso de algumas revistas, pode ser considerado verdade elas não aceitarem um trabalho como artigo porq ele já foi desenvolvido como resumo expandido em anais de congresso? Estou com medo de submeter meu trabalho como resumo expandido e depois alguma revista não aceitar para publicar, isso pode acontecer?

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    1. Yoara, pelo menos nas áreas de Ecologia, Zoologia e Botânica, acho que tanto resumo quanto resumo expandido não são considerados publicação nem pelas revistas.

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      1. Obrigada, a minha área é veterinária. Estávamos com essa dúvida, mas descobrimos que são só algumas que fazem essa exigência, mas não a maioria. Obrigada pela resposta!

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  10. Bom dia a todos, não sei como faço para incluir um resumo em anais de congresso, só encontro trabalho em anais de congresso, alguém poderia me dizer passo a passo, obrigado.

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  11. Olá Marcos gostei muito do texto. Hoje estou orientando alguns alunos de graduação e percebo que os diferentes resumos realmente não tem um valor cientifico para os pesquisadores e alunos de pós…. porém é uma importante ferramenta para esses alunos. Tentar escrever um resumo é o primeiro desafio pra eles. Apresentar seus dados e se expor em um evento começa a mostrar à eles a seriedade do que estão fazendo. Realmente se algum docente acha que resumo é mais importante que um artigo ..algo está errado…(me parece algo irreal que alguém pense assim nessa posição, creio que seja mais uma fuga para não publicar). Mas voltando aos resumos …. acho que tem seu merito nesse sentido ..de ser os primeiros passos desses alunos e criar neles esse pensamento de que a evolução deles é chegar no artigo. Como disse…. acho muito bonito ver o aluno quebrando a cabeça pra escrever ….. e creio que mesmo no lattes é uma forma de estimular esses jovens pesquisadores …. Acho que está bem claro que resumo não é publicação pois como citação isso seria incoerente … Acho que se o docente deixa claro esses pontos ….tudo tem seu valor ..valeu marcos e grande abraço ..Sempre acompanho suas publicaçoes e indico a outros leitores

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    1. Oi Mateus, concordo contigo, o resumo tem o seu valor na formação dos alunos. Mas sempre tento deixar bem claro para eles que a publicação de verdade é o artigo, e que o resumo é só a propaganda do trabalho. É claro que, muitas vezes, e especialmente no caso dos ICs, eles acabam passando primeiro pela experiência de escrever um resumo e apresentar um pôster, antes de passarem pela experiência da publicação de um artigo. Então o resumo geralmente precede o artigo no processo de treinamento científico.

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  12. Gostei bastante do mimimi #3:
    “Importante mesmo é apresentar trabalhos em congressos, pensando nos alunos, coitados, que não sabem ler em inglês e não entendem artigos técnicos, que são complicados e herméticos”
    Além do que você já abordou no post, não saber ler em Inglês é a desculpa mais esdrúchula que se pode imaginar!! Hoje em dia, todo estudante universitário tem acesso à internet (nem que seja no laboratório da Uni!!!). Uma vez na frente da internet, aprender Inglês depende só da pessoa. Não me venha com o papo de “ah, mas feliz foi você que os pais puderam pagar um curso …”, NÃO, isto NÃO é desculpa. Se a pessoa pôde fazer um curso, ótimo pra ela. Se você não teve a mesma sorte, corre atrás do prejuízo, cara pálida! Sabe o professor legal que só te dá textos ótimos e em Português pra ler, desculpe cara, ele está te ferrando “em verde e amarelo”. O gente fina está te condenando à uma carreira medíocre.

    Valeu demais pelo artigo, Marco. Bastante esclarecedor e necessário.

    Att, Ricardo Solar

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    1. Valeu, Ricardo! O que a galera não se dá conta é que, mesmo em países onde as desigualdades sociais são menores, sempre há desigualdades e alguns aspiras começam a carreira com um handicap (e.g., inglês fluente, pais que valorizam a educação), enquanto outros não. Ao invés de culpar o sistema, o governo, a “zelite” etc., o melhor é trabalhar ainda mais para fechar as lacunas. Na verdade, mesmo quem começa com um handicap na carreira científica precisa batalhar bastante, para virar um cientista profissional. Não é fácil para ninguém e reclamar não ajuda. Eu acho que a melhor forma de respeitar os alunos é não subestimá-los.

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      1. Algo que eu tava pensando esses tempos… Uma outra forma menos hipócrita de ajudar alunos que não falam inglês a se darem bem na ciência é pegar algum artigo clássico, tipo o do Hurlbert sobre pseudoréplicas, e traduzir. Assim a pessoa não precisa aprender inglês antes de ler artigos importantes. Digo isso porque existem pessoas que realmente nào tiveram oportunidades de aprender inglês antes da faculdade, e o tempo na faculdade é curto, mesmo para alguém correndo atrás do prejuízo. Mas isso dá muito trabalho e os adeptos do mimimi 3 não devem ter vontade de fazê-lo. rs
        Mas isso não tem nada a ver com publicar trabalhos em português. Quem faz isso está na verdade fazendo um “des-serviço” aos estudantes que não falam inglês, que só irão ler trabalhos provavelmente de qualidade inferior e não vão aprender como fazer ciência de fato. 🙂

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        1. Oi Pavel, concordo contigo. Uma outra alternativa seria publicarmos mais livros-texto em português, para garantirmos que os alunos mais novos, especialmente os que não querem seguir a carreira de cientista, terão acesso pelo menos aos conhecimento de base. Poderiam ser tanto versões de livros importantes no mundo todo, como já temos do Begon e do Odum, quanto livros novos, escritos por nós mesmos, com a nossa visão das coisas.

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  13. Agradeço por elucidar mais esta fábula acadêmica.
    Mesmo entendendo e concordando com esta situação, eu acho interessante que os discentes que estão inciando na prática da escrita científica passe por estes “estágios” (resumo, resumo expandido e trabalho completo).
    Penso este processo como uma ordem evolutiva de escrita, que culmina no artigo. Afinal, em todos os casos, há a apresentação dos principais elementos de divulgação científica.
    Uma dúvida: o resumo deve ser escrito exclusivamente para o evento ou pode-se utilizar “Ipsis litteris” o que se pretende publicar no artigo?
    Qual a sua opinião sobre os denominados trabalhos completos? é considerado publicação?
    Parabéns.
    Abç

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    1. Oi Patrick, concordo contigo, todos os tipos de escrita fazem parte do treinamento de um cientista aspira. Mas acho importante que faça parte do treinamento saber para qual finalidade serve cada tipo de escrita. Quanto a utilizar um resumo ipsis litteris em outra situação, evite, pois isso pode ser visto como plágio, mesmo que seja na verdade um “auto-plágio”. Foi bom você me lembrar dos trabalhos completos. Como tudo na vida, há exceções nessa história dos resumos. Em algumas áreas, como a Química, às vezes trabalhos completos publicados em anais de eventos são bem valorizados, especialmente em eventos com excelente reputação na área, super-disputados. Esses trabalhos são revisados com grande rigor, como feito nos journals, e não é qualquer coisa que sai publicada. O problema é que, em muitas áreas, como a Ecologia e a Zoologia, o rigor na seleção de trabalhos em congressos é quase nulo e encontrar esses trabalhos depois do fim do congresso é virtualmente impossível, o que diminui muito o valor dos resumos.

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  14. Oi Marco,

    Queria saber, além de servir de “spoiler” para seus futuros “wannabes” artigos, resumo de congresso conta alguma coisa no CV no momento de uma contratação ? Ou é só para fazer volume no curriculo lates?

    Abraços

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    1. Depende. Em seleções de doutorado e concursos para professor nas melhores universidades, resumos geralmente não pontuam nada, salvo poucas exceções. Já em seleções de mestrado eles pontuam um pouco.

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  15. Oi, Marco,
    Muito legal o texto! 🙂 (Já falei que quero ser como vc quando crescer?)
    Só um comentário secundário, eu não diria que “extensão” é um outro nome para “divulgação científica”… Acho que divulgação científica entra como extensão (embora tenha gente que discorde), mas extensão é algo mais abrangente e muito sujeito a controvérsias… Mas isso não é de relevância aqui e agora; um dia escrevo algo a respeito. 🙂
    E um outro pensamento… Congressos surgiram numa época sem internet, em que conversar com seus pares sobre assuntos acadêmicos era muito mais difícil do que é agora. Atualmente, tenho a impressão de que outras ferramentas, por exemplo blogs, estão servindo para o mesmo fim – divulgar trabalhos e idéias e fomentar discussões.

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    1. Oi Pavel, obrigado! Você tem razão: a definição de extensão dá muito pano para manga, pois é um conceito frouxo, amplo demais, não formalizado direito. Se pegarmos a definição que consta no contrato de professor, algo como “serviços para levar o conhecimento acadêmico até a população”, na verdade quase tudo que fazemos vira extensão. Eu, pessoalmente, prefiro presumir que extensão é sinônimo de divulgação científica e concentro minha atuação dentro desse campo usando esse foco. Na verdade, também estou planejando atuar na capacitação científica de pessoas de fora da Academia. Quanto às redes sociais, blogs e outras ferramentas de internet, concordo, eles servem muito bem para divulgar o seu trabalho. Mas nada substitui um congresso, assim como nada substitui o contato pessoal, cara a cara. Somo animais sociais e gostamos de encontrar uns aos outros, almoçar juntos, discutir idéias numa mesa de bar. Os laços que você estabelece presencialmente em congressos são fundamentais para o seu networking profissional. Contatos que ficam apenas na internet quase nunca se aprofundam em parcerias mais sérias. Logo, eu acho que a internet complementa, mas não substitui, os congressos.

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