Como escrever um memorial

Que tal colocar um pouco mais de tempero no seu currículo?

“How happy is the blameless vestal’s lot!
The world forgetting, by the world forgot.
Eternal sunshine of the spotless mind!”

Alexander Pope

Prólogo: enfrentando Tiamat

Lembro-me da primeira vez em que tive que preparar um memorial para um concurso de professor. Mermão, que parada complicada! 😓

Eu não sabia nem por onde começar. Na melhor das hipóteses, somos treinados na universidade para montar um bom curriculum vitae (CV). Isso, quando damos a sorte de ter um bom orientador ou de fazer algum curso sobre a carreira. Ou seja, a nossa habilidade costuma se limitar a contarmos nossa trajetória profissional de maneira seca e burocrática, no formato tabular, usando tópicos e listas.

Nesse batismo de fogo, eu me perguntei várias vezes: por que não posso simplesmente mandar meu Lattes?! 😁 Acabei escrevendo um texto que a minha primeira banca de concurso odiou. Tudo bem que eu dei mole mesmo e poderia ter feito um trabalho melhor. Mas um dos membros foi escro deselegante e pegou pesado, me humilhando em público. Faz parte da carreira aturar alguns colegas que precisam de uma sala para eles, outra para o lego (tem uns que montam cidades inteiras!).

Para vender meu peixe, tive grande dificuldade em encontrar o caminho do meio entre a agressiva ousadia alemã, que aprendi lá fora, e a falsa humildade brasileira, típica da minha cultura de origem.

No fundo, além de ser um belo exercício de memória e marketing pessoal, um memorial pode ser algo bem divertido: um CV escrito como se fosse a Divina Comédia ou o Senhor dos Anéis.

Aqui no blog você pode encontrar dicas sobre como elaborar CVsrésumés. CVs são um dos documentos mais importantes para aspiras e novatos que estão disputando bolsas, empregos e auxílios no mundo todo. Nos países líderes da ciência, résumés são fundamentais.

Só que, em alguns casos, você precisa mesmo é de um memorial.

Capítulo 1: que diabos é um memorial?

Um memorial é a história da sua carreira.

Trata-se de um documento no qual, ao invés de listar tudo o que você fez, em fascinantes tópicos latteanos, você explica as suas escolhas e realizações em texto corrido. Quando bem-feito, um memorial é um documento milhões de vezes mais informativo do que um CV para uma banca!

Eu demorei a pegar a manha de escrever memoriais. Sou muito grato a alguns amigos bem-sucedidos, que me emprestaram seus memoriais para servir de inspiração. Alguns deles me deram dicas cruciais, que compartilho aqui neste texto misturadas com a minha própria experiência, adquirida depois de apanhar muito.

Só não posto aqui esses memoriais alheios por respeito à privacidade de seus autores. Contudo, recomendo que você faça o mesmo que eu fiz. Peça os memoriais de amigos que acabaram de ser aprovados em concursos similares ao concurso em que você está focado. Vale ressaltar que memoriais são documentos muito pessoais, viscerais. Logo, tenha bom senso ao pedi-los.

Neste ponto, vale um parêntese. O mais forte raio de inspiração só me atingiu recentemente, ao ler o fabuloso livro “Sobre a escrita: a arte em memórias“, do Stephen King (2015). O capítulo “Currículo”, no fundo, é o memorial mais brilhante que eu já li!

Sério, leia esse capítulo! Quando eu crescer, quero escrever memorial igual ao Steve. Queria tê-lo lido antes do meu último concurso.

Recomendo fortemente também o memorial da Profa. Regina Macedo, apresentado no concurso no qual ela se tornou titular da Universidade de Brasília. É um excelente exemplo de memorial gostoso de ler, bem temperado, digno de uma carreira brilhante como a dela. Veja o link na seção “Exemplos”.

Outro memorial vencedor é o do Prof. Pavel Dodonov, da Universidade Federal da Bahia. Ele fez duas versões: uma oficial para o concurso de professor adjunto em que foi contratado em 2018 e outra informal postada no blog dele. Comparem ambas linkadas também na seção dos exemplos.

Aqui vou apresentar os fundamentos da preparação de um bom memorial, que seja realmente competitivo. Obviamente, as minhas dicas são enviesadas para a Ecologia, que é a minha praia. Mas creio que, salvo variações no foco, a essência não mude muito entre áreas, com base em outros memoriais que já li (tem vários na internet, pergunte ao Prof. Google).

Como de praxe, vamos partir de alguns pressupostos:

  1. Um memorial serve para vender o seu peixe;
  2. Um memorial pode ser escrito de diferentes formas;
  3. Um memorial pode ser interpretado de diferentes formas.

Com relação ao ponto 1, não tenha medo de fazer propaganda das coisas boas que realizou em sua carreira!

Quanto ao ponto 2, quero deixar claro que, obviamente, a minha maneira de escrever memorial não é a única que existe. Estude a minha fórmula, depois estude as fórmulas de outros colegas e, por fim, crie a sua própria fórmula.

Vale ressaltar o ponto 3. Como em toda avaliação subjetiva, diferentes bancas podem ler um mesmo memorial com diferentes olhos. Logo, estude a vaga e, se possível, tambem a banca, como recomendei no texto sobre concursos. Tente adivinhar o tom certo. O chato é que em muitos concursos o memorial precisa ser entregue no ato da inscrição, então não dá tempo de estudar a banca antes, mas apenas a vaga.

Capítulo 2: quando eu devo precisar de um memorial? 

Muito provavelmente, em concursos públicos para professor universitário ou pesquisador no Brasil. Em geral, na Academia, outras formas de disputa envolvem apenas CVs.

Memoriais também são importantes para progredir na carreira, depois que você já conseguiu entrar no sistema. É comum no Brasil você precisar de um memorial para virar professor associado ou titular. Na América do Norte e na Europa, memoriais também são importantes para progressão vertical. Na Alemanha (eu sei, sempre a uso como exemplo… 🇩🇪💕🍺), um bom memorial é crucial, quando um professor quer tirar a Habilitation (a mãe da livre docência) ou se candidatar a uma vaga de titular. Leia mais sobre concursos do primeiro mundo neste thread do twitter.

Contudo, lá fora, na hora de conquistar o primeiro emprego acadêmico, o que conta mesmo são o résumé e os statements (research, teaching e job – outro dia escrevo sobre eles), além, é claro, das cartas de recomendação. Sim, testemunhos são levados a sério e têm um peso enorme em países germânicos e anglo-saxões.

De qualquer forma, já que a maior parte do público deste blog é composta por brasileiros, recomendo fortemente que você aprenda a escrever um excelente memorial. A chance de você precisar dele é grande. E a maestria vem com o estudo e a prática.

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Pratique, pratique, pratique! Fonte da imagem.

Capítulo 3: como é um memorial na prática?

Um memorial é a história da sua carreira. [x2]

Você começa a partir de um ponto que seja relevante para a vaga em disputa e vai até o momento da sua candidatura. Nem sempre você precisa começar contando como era a sua relação com os amiguinhos no maternal. Via de regra, basta começar da graduação em diante. A não ser que resgatar memórias mais antigas lhe pareça ser uma boa estratégia para cativar a banca em um concurso específico.

Logo, o estilo deve ser narrativo. Recomendo que você estude técnicas de contação de histórias para escrever um texto gostoso de ler e convincente. A banca, ao ler sobre a sua Jornada do Cientista (e, em alguns casos, também a fase que veio logo depois dela), deve ficar ávida pela próxima página.

O seu memorial deve ter personagens fortes e um enredo envolvente. Leia mais sobre isso no capítulo 6 deste post.

Não é fácil. Você tem que vender o seu peixe como muito tato, levando em conta à qual cultura pertencem você, a instituição contratante e a banca. Disputar um emprego nos EUA não é igual a disputar um cargo equivalente no Brasil, por exemplo. Mesmo entre estados, cidades,  universidades e disciplinas brasileiras há diferenças culturais importantes que devem ser observadas.

Quanto ao formato, há basicamente três fatores a serem considerados:

  1. O limite de tamanho estabelecido;
  2. Dividir ou não o memorial em seções;
  3. Incluir ou não um CV tabular ao final.

A divisão em seções raramente costuma ser pedida explicitamente nos editais, cabendo ao candidato escolher o estilo de narração com o qual se sente mais confortável (com ou sem capítulos e volumes). No caso dos memoriais com CV anexado, você apresenta o seu CV em formato tabular ao final do memorial propriamente dito, fazendo referências cruzadas entre os dois (aprenda a usar os links internos do Word, Writer, Pages etc.).

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Se você começar a achar que, além de capítulos, precisa de volumes no seu memorial, talvez seja bom revisar o tamanho dele… Fonte da imagem.

Capítulo 4: o que eu devo colocar no meu memorial?

Antes de mais nada, confira no edital do seu concurso qual formato estão pedindo e siga-o à risca. Caso tenham sugerido tópicos padronizados, use-os no seu memorial. Isso facilita muito a vida da banca ao comparar candidatos. Caso tenham pedido um CV anexado ao memorial, não deixe de incluí-lo. Saber seguir instruções corretamente é um sinal honesto do seu grau de profissionalismo.

No geral, um memorial deve conter os seguintes elementos:

  1. Os graus que você conquistou na Academia;
  2. As instituições onde estudou e trabalhou;
  3. As principais atividades que desenvolveu em pesquisa, ensino e extensão (projetos, eventos, colaborações etc.). Diferencie os projetos que de fato coordenou daqueles em que apenas participou. Enfatize também aqueles que contaram com financiamento;
  4. As principais publicações (artigos, matérias, livros, capítulos, apostilas e patentes) que produziu;
  5. Os cientistas que você orientou;
  6. Os principais serviços que prestou à comunidade acadêmica da sua universidade ou à sociedade em geral (cargos administrativos, bancas, comissões, cargos públicos executivos e legislativos, etc.);
  7. As principais sociedades e demais organizações acadêmicas de que participou ou cuja diretoria compôs;
  8. Os seus achievements (distinções, honrarias e prêmios);
  9. Qualquer outra informação importante e pertinente no contexto do edital.

Reparou que usei muito a palavra principal? Não foi à toa. Ao contrário de um CV, um memorial não precisa contar tudo o que você fez na carreira. Saiba escolher as informações que vai incluir. Foco é essencial.

Procure ajustar o peso que vai dar a cada um desses nove itens com base no perfil da vaga que está disputando. Obviamente, mentir não é uma opção. Mas você pode escolher quais itens enfatizar e quais deixar em segundo plano ou mesmo de fora.

Com relação à ordem de apresentação dos itens, sugiro fortemente fugir do formato típico de um CV. Você não precisa falar primeiro sobre publicações e depois sobre serviço, por exemplo. Organize o seu memorial em ordem cronológica, de acordo com as etapas da sua jornada, colocando um pouco de cada um desses nove elementos dentro de cada etapa.

O mais importante é saber claramente se a vaga é voltada mais para pesquisa, ensino ou extensão. Só que ajuda muito também conhecer as particularidades da instituição contratante, de modo a aumentar as chances de convencer a banca.

Preste também atenção ao edital e procure usar os mesmos termos acadêmicos que a instituição usa. Sintonizar o vocabulário azeita a comunicação e demonstra que você fez o dever de casa.

Capítulo 5: qual deve ser o tom do meu memorial?

Essa é a parte mais delicada.

Como já dito, um memorial tem como objetivo vender o seu peixe.

Só que você não pode parecer arrogante, porque isso é um tiro no pé. Tampouco pode parecer uma vítima do mundo. Obviamente, impressões assim são bem subjetivas e variam entre culturas. Logo, decida com cuidado qual dose de ousadia e humildade deve ser a mais eficiente em cada situação.

O que você não pode, de maneira alguma, é se autodepreciar. Sério, deixe a síndrome de impostor para o papo de boteco com os amigos. Mesmo que ela seja forte em você, evite reclamar da vida. Não tem problema se sentir como um impostor. Todos nos sentimos assim em um ou vários momentos da carreira.

O importante é transparecer confiança e segurança para os seus pares. Você pode achar que é a única pessoa insegura entre os candidatos ou mesmo entre os colegas, de um modo geral. Mas, acredite, certamente não é. A maioria dos cientistas é bastante insegura. Não é à toa que muitos disfarçam insegurança com soberba ou mesmo agressividade. A diferença é que alguns sabem lidar bem com a insegurança, mas outros, não.

Só não é saudável se sentir como um impostor o tempo todo ou por períodos longos demais. Se for esse o seu caso, procure ajuda psicológica profissional.

Uma coisa importante, que ajuda a equilibrar o tom de um memorial, é saber demonstrar gratidão. Acima de tudo, pelos seus ancestrais acadêmicos, especialmente mentores, orientadores e professores. Conte no memorial quem foram as pessoas que te deram bons conselhos, abriram portas que levaram a novos caminhos, ensinaram habilidades fundamentais, puxaram a orelha quando você vacilou ou simplesmente deram uma força quando você estava na pior.

Ninguém, absolutamente ninguém, se torna doutor sem ter recebido muita ajuda e dado muita sorte na vida. Cientistas que acham que não têm nada a agradecer a ninguém, no fundo, são pessoas com sérios problemas emocionais.

Tampouco se esqueça de mostrar que você também doa algo à sua comunidade e não apenas parasita o tempo, energia e verba alheios.

Capítulo 6: o enredo e os personagens de um bom memorial

Obviamente, o enredo do seu memorial é a sua carreira.

Traduzindo, conte quais escolhas fez em cada etapa da sua jornada e justifique-as. Analise quais dessas escolhas foram boas ou ruins. Enfatize as que deram certo e explique o caminho que o levou ao sucesso em cada caso. Diga também o que poderia ter feito diferente em alguns casos em que você deu com os burros n’água.

Além de explicar as suas táticas e estratégias, apresente os produtos concretos resultantes de cada projeto. Por exemplo, faça notas de rodapé com as referências dos artigos-chave que mencionar ao longo da história. Ou use links internos do editor de texto, caso tenha anexado um CV ao final do memorial.

Deixe claro o fio condutor da sua carreira, apresentando-o como se fosse o desafio maior da sua jornada. Você pode fazer isso parte a parte, estabelecendo conexões narrativas entre diferentes atividades e produtos. Por exemplo, ter aprendido a linguagem de programação R no mestrado te abriu as portas para convites de parcerias durante o doutorado, sendo que uma delas resultou no paper que você acaba de publicar em uma revista top agora, no pós-doutorado. Ao final do memorial, mostre como venceu o desafio maior.

Explicar esse fio condutor é especialmente importante para convencer uma banca de que você é um cientista sério, que realmente tem uma linha de pesquisa própria. O que não falta hoje em dia são oportunistas, que aprendem um determinado tipo de análise ou têm facilidade de mexer em programas da moda, e aí viram “o autor do meio” em um monte de artigos. Se questionados sobre sua contribuição para esses artigos, sequer sabem defender a mensagem central deles. Se questionados sobre qual é seu objeto de estudo principal ou qual tema norteia suas pesquisas, se enrolam todos.

Desenvolva esse enredo como uma história envolvente, na qual os personagens são você, seus mentores acadêmicos, seus colegas, seus orientados e seus alunos. Obviamente, você deve ser o protagonista da história. O segredo é colocar você mesmo no papel do herói, no sentido usado pelo Joseph Campbell. Não é trivial fazer isso, então recomendo tato.

Personagens fortes ajudam muito a contar qualquer história, inclusive em textos acadêmicos. Instituições podem fazer o papel de cenário ou de personagens, dependendo da relevância de cada uma na sua trajetória profissional.

Estabeleça um arco narrativo para cada um dos personagens principais. Por exemplo, você, sua mentora principal e sua orientada mais brilhante. Introduza esses personagens no enredo nos devidos pontos em que eles entraram na sua vida, resgate-os em outros pontos dos quais participaram e crie uma conclusão sobre a contribuição de cada um para a sua carreira.

Por exemplo, conte em uma parte do memorial que conheceu a “Chiquinha”, quando ela foi fazer IC no seu laboratório. Depois, lá pelo meio, mencione o projeto de mestrado dela, que ganhou um prêmio importante. Já no final, diga que hoje ela faz doutorado naquela universidade “megaboga”, com uma professora sensacional, e que orientar ela te ensinou habilidades que você usa com outros alunos.

Fale também sobre personagens que desempenharam o papel de guardião de limiar. Ou seja, pessoas que criaram dificuldades construtivas ou fizeram você questionar as suas escolhas. Evite falar sobre os antagonistas (rs), porque fofoca não vende peixe (só a Molly Malone vende mariscos…).

A conclusão do enredo deve levar o leitor a crer que você é a pessoa ideal para ocupar essa vaga!

Capítulo 7: não minta no seu memorial.

É só isso mesmo.

Epílogo: resumo da ópera

Observe os seguintes pontos ao preparar o seu memorial:

  1. Um memorial serve para vender o seu peixe;
  2. Você deve precisar desse tipo de documento para ingressar ou progredir na carreira acadêmica;
  3. Escreva o texto em formato narrativo, como quem conta uma história. A moral da história deve ser: “eu sou a pessoa ideal para ocupar essa vaga!”;
  4. Inclua apenas as suas principais escolhas e realizações, mantendo o foco no perfil da vaga e da instituição;
  5. Tente equilibrar ousadia, humildade e gratidão no tom da sua narrativa;
  6. Construa uma história gostosa de ler, com enredo envolvente e personagens fortes;
  7. Não minta.

Exemplos reais de memoriais vencedores!

  1. Profa. Dra. Regina Macedo,  bióloga brasileira: Memorial apresentado no concurso para professora titular da UnB em 2015.
  2. Prof. Dr. Pavel Dodonov, biólogo russo-brasileiro: (1) Memorial oficial apresentado no concurso para professor adjunto da UFBA em 2018 & (2) Memorial informal postado no blog dele. Comparem as versões informal e oficial e pensem sobre o que poderia ser aproveitado de uma na outra.
  3. Meu memorial do concurso de livre-docência.
  4. Stephen King, escritor americano: Capítulo “Currículo” do livro “Sobre a escrita: a arte em memórias”.

Sugestões de leitura

  1. Memoir
  2. O que é um memorial acadêmico?
  3. Memorial para concurso docente: o que é preciso?
  4. Memorial: sugestões para elaboração

(Fonte da imagem destacada)

Videomemorial

Webinar dado no dia 29/04/21 para o ciclo de seminários do Programa de Pós-Graduação em Biologia de Ambientes Aquáticos Continentais, da UFRG (https://ppgbac.furg.br​), a convite dos professores Rogério Vianna e Fabiana Schneck. Este webinar é a versão em vídeo do meu memorial de livre-docência.

25 respostas para “Como escrever um memorial”

  1. Marco,
    Eu sigo seu blog desde quando comecei o mestrado. Estou finalizando o doutorado em Linguística e Semiótica agora e prestando concursos. Todos editais que me inscrevi estão pedindo Plano de Trabalho no lugar do Memorial.
    Eu fiz um Plano de Trabalho contemplando a extensão, o ensino e a pesquisa para os três anos de estágio probatório. Mas tenho algumas dúvidas:
    1. Quantas laudas é uma boa medida (por exemplo: até 5… 10… 20)? Eu tenho que detalhar o projeto de pesquisa (como fazemos para um projeto de pós doc) ou só menciono a ideia em alguns poucos parágrafos?
    2. Tenho que mencionar o trabalho de gestão? Acho que no período probatório não podemos assumir chefias, então fico em dúvida se devo mencionar ou não.
    3- E a Pós graduação? Como posso contemplá-la no Projeto?
    Eu fiquei com medo de distribuir muitas atividades e a banca achar que estou exagerando e que não conseguirei cumprir tudo. Por outro lado, tenho medo de não mencionar algo importante.

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    1. Oi Letícia, muito obrigado por seguir o blog por tanto tempo! Adoro Linguística, é uma área fascinante! Idiomas são minha segunda profissão.

      Plano de trabalho é uma coisa bem complicada. Eles são bem mais comuns em processos seletivos nos EUA e na Europa Ocidental. Nesses lugares há uma certa convergência de formato entre áreas e países.

      Infelizmente, no Brasil, não temos uma cultura muito sólida sobre como fazê-los. Praticamente cada área faz de um jeito e há variações mesmo dentro de uma mesma área entre universidades. Logo, a dica mais importante que posso te dar é buscar modelos de sucesso na sua instituição-alvo. Tem algum amigo seu que passou na mesma universidade nos últimos 10 anos e poderia te mostrar o plano dele?

      Bom, te respondendo por partes:

      1. Não há um padrão de tamanho, a não ser que especifiquem isso no edital. Contudo, via de regra, quanto mais conciso e direto ao ponto, melhor. Afinal de contas, a banca vai ter que ler dezenas deles. Invista em um design eficiente, tornando a leitura mais agradável. O projeto de pesquisa não deve ser tão detalhado como numa proposta convencional a um órgão de fomento. Faça uma versão enxuta, focada em problema, justificativa e resultados esperados.

      2. Sim, infelizmente, você pode acabar pegando cargos administrativos durante o probatório. Tem gente que vira até coordenador de PPG nesse período que deveria ser de incubação. Contudo, no plano de trabalho, não se comprometa nesse campo. Foque em dizer que vai instalar e consolidar um lab. A menos que informações de bastidores apontem que o pessoal da casa dá muito valor à administração. Aí, reconsidere e veja com os colegas o que é melhor fazer.

      3. Sim, se você quiser colocar isso como foco. Mas lembre-se de que poder atuar em PG depende de te cadastrarem ou não. Tem PPGs que valorizam jovens talentos e dão oportunidades a novatos promissores. Outros preferem focar em cientistas mais maduros. Isso varia muito entre áreas, PPGs e universidades. Veja como são os costumes no seu caso.

      Boa sorte!

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  2. No concurso que vou prestar eles cobram a Defesa Proposta de Atividade Acadêmica.
    Informam que é um modelo dissertativo de até 10 paginas.
    Estou confuso de como fazer isso… O que me recomenda?
    Obrigado!

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    1. Nossa, nunca ouvi falar disso. Será a mesma coisa que o “plano de trabalho”, usado algumas vezes na minha área? Pergunte a eles sobre os detalhes, para saber exatamente o que querem. Essas coisas às vezes ficam meio confusas em concursos.

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  3. Dahora, meu nome citado junto com o de Stephen King 🙂 (Vou procurar em inglês esse texto dele pra ler; lendo The Dark Tower, percebo que Stephen King no original é sublime demais para não ser lido)

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  4. Oi Marco! Adoro o seu blog e todas as suas postagens!
    Escreve sobre como superar a “derrota” em um concurso, please!
    A pouco, acabei de prestar concurso para vaga dos sonhos na universidade dos sonhos. Fui muito bem (suas dicas ajudaram muito), mas por 0,2 pontos não consegui a vaga. Agora me vejo perdida, sem foco, sem saber o que fazer. Sinto que perdi a melhor oportunidade da minha vida.

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    1. Oi Camila, excelente sugestão de tema, vou escrever sobre ele! Passar em concurso é difícil mesmo, ainda mais em tempos de crise, quando a competição fica mais brutal. E perder por décimos de pontos é a regra, não a exceção. Eu sei que a pancada dói forte, pois já estive aí onde você está agora. A parada é assimilar a derrota, curtir o luto, pensar sobre o que poderia ter feito melhor, trabalhar ainda mais duro com um plano melhorado e tentar de novo! Lembre-se das palavras do filósofo Balboa:
      “Let me tell you something you already know. The world ain’t all sunshine and rainbows. It’s a very mean and nasty place, and I don’t care how tough you are, it will beat you to your knees and keep you there permanently if you let it. You, me, or nobody is gonna hit as hard as life. But it ain’t about how hard you hit. It’s about how hard you can get hit and keep moving forward; how much you can take and keep moving forward. That’s how winning is done!”

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  5. Parabéns!
    É incrível como você consegue escrever de forma suave e envolvente os temas acadêmicos, chega a dar vontade de sair correndo para escrever um memorial, mesmo sem estar precisando!
    Gostei muito da dica do livro (dicas de livros são sempre bem vindas!), será o próximo da cabeceira…

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    1. Muito obrigado, Vanessa! Quando eu li o capítulo sobre currículo no livro do King, quase pedi para a minha última banca de concurso deixar eu fazer o memorial de novo, rsrsrs. Fiquei tão empolgado que resolvi escrever este post.

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  6. Olá, Marco!

    Até agora eu não sabia o que era um memorial, talvez fruto de ter trocado a academia pela indústria.
    Mas, tendo uma queda pela literatura, deu até vontade de escrever o meu 🙂

    Na semana que vem, estarei em Belo Horizonte e passarei na UFMG umas duas vezes por dia.
    Você ainda está por aí?
    Gostaria de lhe dar um oi pessoalmente, se possível.

    Abraço,
    Lucas Palhão

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    1. Oi Lucas, até que é divertido escrever memorial, depois que você entende o que é para fazer, rs. Não estou mais na UFMG, mudei para a USP em maio. Quando vier a Sampa, dê um toque!

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