Saúde mental na Academia

Muitos aspiras acabam desenvolvendo transtornos psicológicos na graduação ou na pós-graduação. Para piorar, parece que o número de casos vem crescendo rapidamente nos últimos anos. Professores e técnicos tampouco escapam desse problema.

Felizmente, a saúde mental tem sido discutida de forma mais aberta. Só que ainda estamos lidando mal com o problema, por diversas razões. A principal delas é que, via de regra, cientistas e professores não são profissionais da área, exceto por aqueles que são psiquiatras, psicólogos ou psicanalistas, é claro. Assim, a melhor coisa a fazer é ouvir quem realmente entende do assunto.

Assista a este excelente vídeo produzido pela TV UFMG sobre o tema:

Mais recentemente, o Prof. Robson Cruz deu outra palestra sobre o tema no Café Existencial do Programa de Pós-Graduação em Ecologia da USP:

A saúde mental foi tema de uma edição da USP Talks em 2018:

Houve uma mesa redonda no I Dia da Saúde Mental da Unesp de Rio Claro. Leia o repasse do evento aqui no nosso blog. E confira as palestras e a mesa-redonda no canal da APG-Unesp:

Talvez você não saiba, mas há como conseguir ajuda psicológica gratuita em várias cidades:

Além de assistir aos videos acima, leia também dois excelentes artigos que investigaram a fundo a experiência de cursar uma pós-graduação:

  1. Work organization and mental health problems in PhD students
  2. The PhD Experience: A Review of the Factors Influencing Doctoral Students’ Completion, Achievement, and Well-Being (leia também a resenha deste artigo em um blog)

Não sou um profissional da saúde mental, mas sou obrigado a lidar com essa questão no dia a dia, trabalhando como professor, orientador e gestor de jovens cientistas. Já testemunhei casos tristes ou mesmo trágicos, que poderiam ter sido evitados. Assim, dou minhas recomendações pessoais para você, aspira ou novato:

  1. Pense duas vezes antes de ingressar ou de continuar em uma pós-graduação. A dura verdade é que essa carreira de alta performance, que exige um perfil psicológico específico, é muito competitiva, requer grande esforço, envolve sacrifícios e não oferece garantias. Logo, ela não é para todo mundo;
  2. Fuja de orientadores picaretas e programas fracos. Você pode pagar caro a médio e longo prazo ao optar pela comodidade de continuar em um laboratório onde já tem verba garantida, mas que é liderado por um orientador ruim. Ou um PPG que tem entrada e bolsa fáceis, mas é pessimamente estruturado;
  3. Tenha muita disciplina ao longo de toda a sua carreira. Não é preciso se matar de estudar. Você precisa apenas usar bem o seu tempo. E não se sinta culpado se render menos do que o colega ao lado, desde que você trabalhe duro;
  4. Não descuide das suas necessidades básicas: vida pessoal, alimentação, descanso, lazer, atividades físicas e práticas espirituais;
  5. Se começar a se sentir triste, frustrado ou angustiado por períodos longos demais, converse com o seu orientador ou coordenador, divida a carga emocional com os seus melhores amigos e procure ajuda médica (por exemplo, junto ao Escritório de Saúde Mental da USP ou ao Hospital Universitário da USP).

Em alguns casos, quem desenvolve psicopatalogias deve se afastar temporariamente das atividades acadêmicas pelo tempo que o médico determinar. Mesmo em excelentes instituições, o treinamento de cientista envolve muita pressão e isso não contribui em nada para a cura. Contudo, é possível, sim, ter sucesso na Academia mesmo tendo um transtorno psicológico, mas só quando você busca ajuda profissional.

Saiba que, caso você se sinta sobrecarregado na Academia, você não está sozinho! A crise de saúde mental só tem piorado, ainda mais depois do coronapocalipse. Assim como em outras carreiras competitivas, há diferentes estratégias para combinar uma carreira produtiva com uma vida equilibrada.

Precisamos discutir mais profundamente a questão da saúde mental na Academia. Por um lado, antigamente não ligávamos para essa questão e tratávamos doença mental como fraqueza ou frescura. Por outro lado, hoje estamos exagerando para o extremo oposto e medicalizando todo e qualquer sofrimento, além de tratar os aspiras em geral de modo paternalista ou populista.

Como em tudo na vida, equilíbrio é fundamental. Vale lembrar que a grande maioria dos cientistas e professores universitários não é profissional da saúde mental e acaba se metendo onde não deveria. Pior ainda, muita gente “do bem” gosta de se vangloriar, dizendo que está ajudando os alunos, enquanto na verdade está ajudando apenas o próprio ego e tornando um problema ruim ainda pior. Daqui a uns 10 anos olharemos para trás e entenderemos quanto estrago foi feito com boas intenções. Não se deixe manipular!

Cuide-se!

Sugestões de leitura:

  1. Estudantes de mestrado e doutorado relatam suas dores na pós-graduação
  2. O doutorado é prejudicial à saúde mental
  3. Depressão e sofrimento na pós-graduação: frescura catártica ou saúde pública?
  4. A mental-health crisis is gripping science — toxic research culture is to blame
  5. Feeling overwhelmed by academia? You are not alone
  6. What colleges must do to promote mental health for graduate students
  7. Mental health in academia is too often a forgotten footnote. That needs to change
  8. How to grow a healthy lab
  9. Imposter syndrome isn’t the problem—toxic workplaces are
  10. Depression and anxiety are common among graduate students
  11. Life as an anxious scientist
  12. Reflections on the one-year anniversary of my anxiety post, including thoughts on how to support students with anxiety
  13. How to support undergraduate students experiencing mental health concerns
  14. Why I Collapsed on the Job
  15. Reflections on the one-year anniversary of my anxiety post, including thoughts on how to support students with anxiety
  16. The Story Behind a Moving Academic Acknowledgement
  17. Mental Health Crisis for Grad Students

(Fonte da imagem em destaque)

32 respostas para “Saúde mental na Academia”

  1. Acredito que o aumento de registro de casos também pode estar relacionado ao crescimento do número de pessoas encorajadas a falar. Esse problema pode ter sempre existido, mas o aumento pode estar na quantidade de relatos. Tenho percebido um aumento na discussão sobre este tema no meio acadêmico, que penso ainda ser tabu, o que ajuda na aumento da conscientização dos alunos.

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    1. Sim, pode ser isso também. Por isso é importante os psiquiatras e psicólogos desenvolverem pesquisas sobre o tema. Precisamos responder da melhor forma esse monte de perguntas que tem surgido.

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  2. Olá, Grande Marco! Excelente vídeo e dicas. Olha, não sei se o número vem aumentando. Às vezes parece que aumentou pelo fato de ter aumentado o número de aspiras na pós. Eu tenho a impressão de que é a discussão sobre o tema vem aumentando e deixando o status de tabu. Não sei se é verdade, mas me parece na época em que os nossos avôs (e até mesmo os pais) acadêmicos sofriam com essa pressão da pós, eles recebiam uma resposta meio padrão do tipo “ces’t la vie”. Acredito que em algum momento esses outrora pós-graduandos e que agora são orientadores abriram espaço e também começaram a debater as pressões e angústias da pós. Ainda sim acho que é muito necessário que essa discussão seja ativa nos ppgs. Uma das coisas mais importantes para melhorar é ressaltar que o cientista está em formação e que na pós é a hora de errar e aprender com isso. Parece besteira, mas existe uma cobrança (tanto pessoal quando dos grupos) de que sejamos sempre excelentes e isso pode destruir o espírito. Uma perguntinha: será que você pode expandir a discussão para a discussão sobre síndrome do impostor? Esse é outro tópico importante de ser discutido.
    Grande abraço!!!!

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    1. Oi Nelson! Bom te ver por aqui. Sim, no nível de cada aluno individual, acima de tudo é importante ouvirmos as reclamações e encaminharmos para atendimento profissional. No nível populacional, concordo contigo: o primeiro passo seria coletar dados e testar se o esse aumento no número de casos seria maior ou menor do que o esperado com base no aumento no número de aspiras. Pode discutir também a síndrome de impostor aqui, se quiser. Fique à vontade!

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  3. Excelente post Marco. É possível observar um aumento nos casos de adoecimento mental também na graduação, em jovens no geral. Isso é muito triste e é preciso pensar nos fatores que estão contribuindo para isso dentro das instituições e como elas poderiam oferecer suporte. É muito importante discutir esse assunto.

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    1. Obrigado, Victor. Como de costume, devem ser um fenômeno multicausal. O que chama a atenção de muita gente é o rápido crescimento no número de casos nos últimos anos. Dentre os vários fatores causais, um ou mais devem ter sido alterados. Tomara que o pessoal que está estudando isso chegue a alguma conclusão forte.

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